Profissionais de saúde enviam carta ao PR contra limitação no acesso de estrangeiros ao SNS
8 de jan. de 2025, 11:16
— Lusa/AO Online
Os
profissionais de saúde, entre os quais médicos de várias especialidades,
enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, técnicos
auxiliares de saúde e técnicos de diagnóstico e terapêutica, consideram
que o projeto de lei aprovado em dezembro no parlamento viola o direito
universal à saúde e põe em risco a saúde pública, especialmente de
populações vulneráveis, como crianças, grávidas e doentes crónicos.Os
signatários, entre os quais se encontram a presidente da Federação
Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, reforçam que o projeto de lei
contraria princípios constitucionais e éticos que regem a prestação de
cuidados de saúde em Portugal, “comprometendo a missão do SNS [Serviço
Nacional de Saúde] como um pilar da saúde pública e da igualdade de
direitos” e dizem que continuarão a garantir cuidados "a todas as
pessoas, sem discriminação".“Esta medida
viola a Constituição, a legislação europeia e o código deontológico
médico. Agravará desigualdades, prejudicará populações vulneráveis e irá
comprometer a saúde pública", lê-se na carta aberta, a que a Lusa teve
acesso.O projeto de lei em causa refere
que “o acesso de cidadãos em situação de permanência irregular ou de
cidadãos não residentes em território nacional (...), implica a
apresentação de comprovativo de cobertura de cuidados de saúde, bem como
a apresentação de documentação considerada necessária pelo
Serviço Nacional de Saúde para adequada identificação e contacto do
cidadão, exceto no acesso a prestação de cuidados de saúde urgentes e
vitais”.Na missiva, os signatários
consideram que, na prática, esta disposição legal, ao privar um segmento
importante da população residente em território nacional do direito à
proteção da saúde, “viola a garantia de acesso de todos os cidadãos e
cidadãs”, consagrada na Constituição da República Portuguesa e na Carta
de Direitos Fundamentais da União Europeia.“No
quotidiano, estes e estas utentes encontram já várias barreiras no
acesso e manutenção de cuidados de saúde. Receamos, como
profissionais de saúde, que a nossa prestação de cuidados à população,
nomeadamente a estes e estas utentes, possa vir a sofrer uma limitação
adicional, agravando desigualdades e desfavorecendo uma população que
se encontra frequentemente em situação de vulnerabilidade”, referem.Os
profissionais de saúde alertam ainda para o facto de estas alterações à
Lei de Bases da Saúde poderem vir a colocar em risco a saúde pública
de toda a comunidade, sublinhando: “deixa de estar assegurado o acesso
gratuito e regular à vacinação, bem como a adequada abordagem de
doenças transmissíveis que representem ameaça para a saúde
pública”.“Preocupa-nos ainda que a
limitação no acesso a cuidados preventivos e atenção primária contribua
para uma procura adicional pelos serviços de urgência (SU), que passarão
a ser a única porta disponível de acesso ao SNS”, acrescentam.A
carta foi enviada ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,
ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, ao
primeiro-ministro, Luis Montenegro, à ministra da Saúde, Ana Paula
Martins, e ao procurador-geral da República, Amadeu Guerra.Em
dezembro, mais de 800 profissionais de saúde assinaram uma carta aberta
onde recusam cumprir a decisão, que consideram discriminatória, de
impor novas limitações a estrangeiros não residentes no acesso ao SNS e
admitem praticar atos de desobediência civil.Na
altura, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, manifestou-se
solidário com os profissionais que recusarem limitar o acesso de
estrangeiros não residentes ao SNS e disse compreender eventuais atos de
desobediência.