Profissionais de saúde e lavradores são dos poucos que entram e saem na Povoação
Covid-19
30 de mar. de 2020, 14:55
— Lusa/AO Online
Numa
entrada norte no concelho, que a agência Lusa visitou esta segunda-feira, um polícia e
uma barreira - com um sinal rodoviário de proibição - não deixavam
margem para dúvidas: não entra quase ninguém no concelho e quem o faz
arrisca-se a não sair, pelo menos até dia 13 de abril, período até ao qual
foi decretado o cerco sanitário.César
Cruz, lavrador, tem cerca de 60 animais no concelho. Não precisa de ir
ao seu encontro hoje, mas na terça-feira espera-lhe a ordenha e o dar de
comer às vacas, por isso hoje tentou já aproximar-se do seu terreno
para perceber o que fazer para atravessar a barreira montada pelas
autoridades."Ontem [domingo] quando saí
ainda não estavam cá as barreiras. Tenho uma exploração nas Furnas,
preciso de entrar e sair. Disseram-me que posso, mas que tenho de ter
uma autorização. Estou abismado, chegar aqui de um dia para o outro e
ter o caminho fechado...", conta, em jeito de lamento.Os
pais de César moram nas Furnas, uma das seis freguesias do concelho da
ilha de São Miguel, e "já têm uma certa idade": ele 80, ela 79."São pessoas que dependem um pouco de mim, mas vamos ver", prossegue o açoriano. Enquanto
a Lusa se encontrava na entrada do concelho, foram poucas as viaturas
que passaram: uma veio entregar material médico, nomeadamente máscaras,
tendo do lado de lá da barricada um profissional que as recebeu; uma
outra veio descarregar material para supermercados, nomeadamente
frescos, alguns profissionais da televisão também passaram pelo local e,
em nenhum momento, alguém tentou chegar à Povoação por motivos que não
prementes."As pessoas já estão
mentalizadas, isto já vem desde ontem [domingo] à tarde, hoje já está
mais calmo", sublinhou à Lusa o agente da autoridade presente no local.Um
morador na Povoação, que tinha tido autorização para ir a Ponta Delgada
fazer um "trabalho urgente" ligado a um organismo público, defendeu à
Lusa a abertura de uma exceção no cerco sanitário para um profissional
muito específico: o padeiro."O padeiro é
uma pessoa que deixa o pão em sacos em casa das pessoas, não tem
contacto direto. Julgo que era melhor avançar porta a porta do que irmos
todos aos supermercados", acrescentou o residente local, descrevendo as
ruas da Povoação como "desertas", pelo menos no período da manhã,
quando de lá saiu para se dirigir a Ponta Delgada.O
concelho da Povoação, em São Miguel, onde no domingo foi decretado um
cordão sanitário devido à transmissão local de coronavírus, é um
município com seis freguesias e tem uma população de pouco mais de seis
mil habitantes.A Povoação é um dos seis municípios da ilha de São Miguel, a maior e mais populosa dos Açores.O
concelho, que faz fronteira com a Ribeira Grande e o Nordeste, a norte,
e Vila Franca do Campo, a oeste, estará encerrado até às 00h00 de 13 de
abril.Deste modo, a população das
freguesias de Água Retorta, Faial da Terra, Furnas, Nossa Senhora dos
Remédios, Povoação e Ribeira Quente fica impedida de sair do município.É
na freguesia da Povoação, sede do município, que reside a maioria da
população do concelho, cerca de 2.100 habitantes, seguindo-se as Furnas,
com aproximadamente 1.400 habitantes, num dos pontos mais turísticos da
ilha, e Nossa Senhora dos Remédios, com uma população de pouco mais de
1.100 pessoas.