Profissionais de saúde da ilha Terceira agradecem apoio das pessoas em marcha de São João
22 de jun. de 2022, 08:26
— Lusa/AO Online
“Vamos
agradecer às pessoas, porque achámos que era uma coisa importante.
Tantas palmas que nos bateram, tantas ofertas que nos vieram trazer ao
hospital, estava na altura de nós retribuirmos essa mensagem”, afirmou,
em declarações à Lusa, Sérgio Pereira, enfermeiro do serviço de urgência
do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira.Quando,
em março de 2020, a ilha Terceira detetou o primeiro caso de infeção
por SARS-CoV-2 nos Açores, o vírus era ainda desconhecido e trouxe
“medos, preocupações e dificuldades” aos profissionais de saúde.O
apoio da população foi “fundamental” para se conseguir conter a
pandemia de covid-19 e os profissionais, que estiveram “na linha da
frente”, querem agora retribuir esse carinho da forma mais “terceirense”
possível.“Não
havia forma mais interessante de agradecer do que numa marcha de São
João, nas festas icónicas da ilha Terceira”, explicou Sérgio Pereira.As
festas Sanjoaninas, paradas durante dois anos devido à pandemia, estão
de regresso às ruas de Angra do Heroísmo, por onde vão desfilar 21
marchas na noite de quinta-feira, incluindo a “Marcha dos Profissionais
da Linha da Frente”.Ao
todo são 66 marchantes, a maioria médicos e enfermeiros dos serviços de
urgência e cuidados intensivos, ainda que se incluam também alguns
familiares, bombeiros e técnicos do laboratório onde, durante os últimos
dois anos, se fizeram análises ao coronavírus SARS-CoV-2.Os tempos mais difíceis da pandemia ainda estão frescos na memória de quem não teve direito a confinamento.“No
início era tudo muito desconhecido, tudo muito novo e tudo muito
medonho. Nós não sabíamos o que é que ia acontecer. Víamos as notícias
do resto do mundo, onde se acumulavam desgraças”, recordou Sérgio
Pereira.Foi
o “apoio incondicional” da família e dos colegas de trabalho, mais
unidos desde essa altura, que ajudou a superar as horas difíceis, mas o
carinho das pessoas, manifestado nos mais simples gestos, também foi
decisivo.“Mesmo
não tendo perceção, foi uma coisa fundamental as pessoas terem ficado
em casa e terem-nos ajudado, porque o que estava a acontecer no mundo é
que os serviços de saúde não tinham capacidade de resposta”, adiantou o
enfermeiro.Andreia
Moniz, médica intensivista, confessou que nunca tinha sentido um apoio
igual por parte da população, em toda a sua carreira.“Fizeram
pequenas coisas, que parecem simples, mas que fizeram toda a diferença.
Acima de tudo, fizeram-nos sentir acompanhados naquilo que estávamos a
fazer”, contou.Das
palmas nas varandas, à marcha de viaturas de bombeiros e forças de
segurança à porta do hospital, foram muitas as manifestações públicas de
agradecimento aos profissionais de saúde.Ainda
este ano, no Dia de Portugal, o Serviço Regional de Saúde dos Açores
foi agraciado como membro honorário da Ordem de Mérito.Mas, foram muitas também as manifestações, em privado, desconhecidas para a maioria da população.“Não
imagina a quantidade de vezes que nos mandaram comida e bebidas nos
dias em que estávamos a trabalhar e não podíamos ir a lado nenhum.
Mandaram até cremes para as mãos, porque, por usarmos muitos
desinfetantes, tínhamos todos problemas com a pele”, recordou a médica.Mais do que as palmas ou os presentes, foi a postura das pessoas que marcou Sérgio Pereira.“Era
quase uma compaixão. As pessoas que se viam forçadas a vir ao hospital,
e que só vinham mesmo quando era necessário, tratavam-nos como nunca
tinham tratado, com simpatia e com alguma cordialidade, porque viam a
importância de estarmos ali”, frisou.Ensaiada
na Vinha Brava, junto ao local onde decorreram testagens e vacinação em
massa contra a covid-19, a “Marcha dos Profissionais da Linha da
Frente” está pronta a sair à rua, ainda que nunca tenha conseguido
juntar num só ensaio todos os marchantes.“A marcha também foi feita a turnos”, brincou Andreia Moniz.Com
a ajuda de colegas de outros serviços, para não comprometer a prestação
de cuidados nas urgências e nos cuidados intensivos, na noite de São
João os profissionais da “linha da frente” vão descer a cidade, com uma
mensagem que se espera emotiva.“Sempre
que falamos nestes assuntos acaba por ter uma carga emocional grande.
Se conseguirmos parar no meio da Rua da Sé e dizer obrigado a toda a
gente é garantidamente um momento de emoção, que revela tudo o que nós
queremos dizer”, sublinhou Sérgio Pereira.