Produtores de leite e de carne da ilha Terceira sairam à rua em protesto
12 de nov. de 2021, 15:34
— Lusa/AO Online
“Tem de haver uma
sensibilidade de perceber que suportamos baixas do preço de leite até um
certo ponto. Neste momento, não conseguimos suportar mais”, afirmou, em
declarações aos jornalistas, o presidente da Associação Agrícola da
Ilha Terceira (AAIT), José António Azevedo.A
manifestação, que durou várias horas, saiu zona industrial de Angra do
Heroísmo, por volta das 11h00 e percorreu a periferia
da cidade, em ritmo lento, com um buzinão.Ao
todo, contavam-se perto de uma centena e meia de viaturas. Os tratores
agrícolas deixaram as pastagens e saíram à rua, com tanques e atrelados,
decorados com cartazes.“O futuro dos
agricultores está em risco”, “exigimos um preço justo à produção” e “é
ridículo vender leite mais barato que água” eram algumas das palavras de
ordem que se podiam ler.Os motivos do descontentamento foram explicados à porta da fábrica de leite de maior dimensão ilha.“Queremos
um preço justo à produção. Queremos uma valorização daquilo que
produzimos. Está aqui em causa a economia da região e da ilha Terceira.
Está em causa a integração dos jovens no setor. Ninguém quer integrar um
setor que não seja rentável”, sublinhou José António Azevedo.O
preço base do litro de leite à produção na ilha Terceira é de 25
cêntimos, incluindo o aumento de cerca de um cêntimo anunciado no início
do mês pela União das Cooperativas de Laticínios Terceirense (Unicol).Os
produtores alegam que o valor não compensa o aumento dos fatores de
produção (combustíveis, rações, cereais, entre outros) “na ordem dos 25 a
30%”.“Até o próprio leite na prateleira
está mais caro. Ao produtor é que os aumentos são residuais. Aumentos de
3,5%? Como é que se faz face a compras na ordem dos 25 a 30% de
inflação, de janeiro até setembro?”, questionou o presidente da AAIT,
alegando que não houve um “acompanhamento real”, tanto no preço do leite
como da carne.Para José António Azevedo, a adesão ao protesto comprova a “indignação” dos produtores de leite e de carne da ilha Terceira.“Não
tem os produtores todos da ilha Terceira, mas tem uma grande massa”,
frisou, ressalvando que os produtores têm “muito receio da indústria”,
por haver praticamente um “monopólio”.Questionado
sobre se a indústria tinha entrado em contacto com os produtores, na
sequência do anúncio da manifestação, José António Azevedo disse que não
houve até agora tentativa de diálogo.“A
indústria da ilha Terceira não fala com as associações agrícolas,
infelizmente, e também não fala abertamente com os produtores de leite
da ilha Terceira, apenas com os seus delegados”, apontou.O
presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses (AJAT),
Anselmo Pires, defendeu que, “face aos custos que já aumentaram e
àqueles que se adivinham”, o aumento deve ser no mínimo “de cinco
cêntimos no preço do leite e cerca de 10 cêntimos no quilo da carne”.“A
produção está esmagada”, frisou, alegando que “as grandes superfícies
comerciais que esmagam as indústrias” em Portugal, que por sua vez
esmagam a produção, numa “guerra comercial”.O
produtor agrícola considerou que tem de haver diálogo com todas as
partes e que o Governo Regional “também tem de ser chamado nesta
equação”.