Produtores de laranja algarvios desesperados pedem ajuda para salvar produção
26 de dez. de 2023, 10:48
— Fernando Paula Brito /Lusa/AO Online
“Apelamos
a todos os governantes, entidades que tutelam esta área, que nos
ajudem, porque sem ajuda não sei como é que vamos conseguir sobreviver
com uma planta que é de regadio e que necessita obrigatoriamente de água
e que também é o ex-líbris deste território”, disse à Lusa o presidente
da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão.João
Garcia receia que a falta de água leve a quebras importantes na
produção normal na região do país maior produtora de citrinos, uma
situação que também pode levar ao “desaparecimento” desta cultura no
concelho algarvio.Segundo dados desta
associação, o perímetro agrícola de Silves, Lagoa e Portimão tem 90% dos
seus terrenos agrícolas dedicados à produção de citrinos e 50% da
produção portuguesa neste subsetor é cultivada no primeiro desses
concelhos.“A situação é muito preocupante.
É preocupante na medida em que nós estamos em plena colheita, portanto
nós estamos agora na altura da colheita da laranja, e estamos com um
problema de seca severa e com um problema de falta de água nesta zona”,
insiste João Garcia.O agricultor recorda
que “desde 2019 que não tem existido praticamente precipitação nenhuma
neste território” e que nos últimos três anos tem havido “racionamento
de água”.“Só que chegamos a um ponto que não temos água. Portanto, esta é a situação mais preocupante”, afirmou.João
Garcia assegura que, se a seca, como parece, se mantiver, “a produção
[de laranja] vai cair”, com todas as consequências que isso terá, como a
subida do preço e a diminuição das exportações."Presentemente
estamos à espera do São Pedro. Porquê? Porque não temos outra forma de
pôr água na nossa albufeira sem ser pela precipitação”, disse o
presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves.Os
membros desta associação há dois meses que racionam a pouca água que é
libertada pelas albufeiras, barragens e aquíferos da região.Segundo
o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, na região de
Silves, a albufeira do Arade estava em novembro a 14,9% do seu nível
máximo, enquanto a de Odelouca estava a 24% e a do Funcho a 33%.Nos
últimos meses tem sido cada vez mais falada a importância da construção
da dessalinizadora prevista para o Algarve, assim como a possibilidade
de transvases de água do Norte para o Sul do país.“Nós
esperamos que todos esses projetos sejam executados, mas a nossa grande
preocupação é amanhã, e amanhã não temos água […] e já há mais de quase
dois meses que os nossos agricultores não têm água para dar aos seus
pomares”, lamentou João Garcia.O produtor
de citrinos recorda que as temperaturas estão “acima do normal” para a
época e que não se prevê a chegada da chuva que poderia atenuar a
dificuldade em obter água.“A precipitação
não está prevista nos próximos tempos e não sei como é que vai ser
agora, se o São Pedro não nos ajudar, não sei como é que vai ser a
próxima campanha. Podemos estar aqui à beira de uma de uma situação
muito complicada”, insistiu.