Produção de leite nos Açores perde milhares de euros por má seleção de animais
21 de set. de 2023, 14:43
— Lusa
“Nós
nos 600 milhões de litros de leite que produzimos estamos a perder
diariamente uns milhares acrescentados de euros, para não dizer milhões,
por causa de uma mutação que define o genótipo de k-caseína A e o
genótipo de k-caseína B, que tem um rendimento queijeiro muito
superior”, afirmou o investigador do Centro de Biotecnologia dos Açores
(CBA), da academia açoriana, Artur Machado.O
docente falava, em Angra do Heroísmo, na apresentação da Biotech
Synery, primeira ‘spin-off’ (empresa criada a partir de um centro de
investigação) da Universidade dos Açores, que criou junto com os
investigadores do CBA Duarte Mendonça, Maria Susana Lopes e Ana Rita
Azevedo.O pacto social que formalizou a
criação da Biotech Synergy foi assinado hoje no Parque de Ciência e
Tecnologia da Ilha Terceira – Terinov, onde o Centro de Biotecnologia
dos Açores está instalado.A empresa
pretende aplicar o conhecimento da investigação em biotecnologia nos
setores agrário, ambiental, bioindustrial e da saúde e bem-estar.É
sobretudo na agricultura, e em concreto na produção de leite, que Artur
Machado defende que a Biotech Synergy pode fazer a diferença, por
exemplo, efetuando análises genéticas, que atualmente são feitas no
estrangeiro, mas já podem ser realizadas pelo CBA desde 1998.“Há
genes específicos que condicionam a produção de sólidos no leite, por
exemplo, as k-caseínas, as beta-caseínas. O produtor, ao ter acesso a
essa informação, tem uma ferramenta que lhe permite escolher o que é que
ele quer produzir. Se a indústria receber um melhor leite, também terá
de acompanhar”, afirmou, em declarações aos jornalistas.“Cada
vez caminhamos mais para uma agricultura de precisão. Não pode haver
desperdícios, não pode haver perda de tempo, não pode haver más
escolhas. É aí que a tecnologia pode ajudar”, acrescentou.Para
o investigador, a região tem de aliar investigação e indústria, para
ter “produtos de valor acrescentado muito mais elevado e capazes de
competir com o estrangeiro”.“Não nos serve
de nada produzir um terço do leite nacional se nós não conseguimos ter
um valor acrescentado deste produto. Temos uma matéria-prima excelente
que depois é vendida como leite em pó ou como leite UHT, que são as
formas mais simplistas de comercialização de leite”, alertou.O objetivo da empresa é não só ajudar a economia açoriana, mas aplicar os serviços desenvolvidos noutros países.“A
nossa universidade não é uma universidadezinha, é uma universidade como
qualquer outra e tem de se lhe prestar atenção. Temos de ser capazes de
concorrer”, sublinhou Artur Machado.O
investigador reivindicou, no entanto, um maior investimento em ciência
na região, lembrando que a fábrica de inovação de produtos lácteos
prevista para o Terinov, inaugurado há três anos, continua por equipar.“Às
vezes a própria região esquece-se da ciência, esquece-se do
financiamento da investigação fundamental e da aplicação. Principalmente
nas áreas agrícolas, a região sofre imenso, porque não há uma decisão
clara no investimento da ciência fundamental ligada à principal fonte de
rendimento da região, que é a agricultura”, criticou.No Centro de Biotecnologia dos Açores, a investigação é de qualidade, mas faltam recursos humanos, segundo Artur Machado.“A
prova de que as universidades portuguesas têm boa qualidade é o número
de investigadores portugueses que estão no estrangeiro. Não falta aqui
qualidade, faltam é os meios para os manter. Nós próprios, Centro de
Biotecnologia, infelizmente perdemos continuamente ótimas pessoas, que
vão para o estrangeiro”, frisou, revelando que o CBA tem perto de três
dezenas de investigadores.