Processo dos atentados de novembro de 2015 em Paris é "um grande show mediático"
12 de nov. de 2020, 13:41
— Lusa/AO Online
"O
processo é um grande show mediático e um reavivar da dor de quem perdeu
alguém próximo ou que foi ferido carrega consigo. Tem de haver um
processo, porque foi um ato de guerra e isso deve ficar registado na
história, mas não tenho qualquer confiança na justiça", afirmou à
agência Lusa Patrícia Correia, mãe de Precília Correia, lusodescendente,
que morreu no atentado ao Bataclan e uma das fundadoras da associação
de vítimas 13onze15.O megaprocesso obrigou
à construção de uma sala de audiências especial no Palácio de Justiça
de Paris, junto à Notre Dame. As autoridades estimam que o julgamento
vai envolver mais de 3.000 pessoas, entre os 20 acusados, 1.700
sobreviventes, testemunhas ou famílias das vítimas, 350 advogados e
jornalistas.Esta logística não
impressiona Patrícia Correia nem outras famílias que integram a sua
associação já que anteveem que o processo não traga nem novidades nem o
castigo necessário aos acusados."Houve
grandes falhas por parte das autoridades, isso já sabemos. Quanto aos
réus, deixamos-lhes sempre uma oportunidade de sair ao fim de alguns
anos", sublinhou.No banco dos réus não
haverá nenhum terrorista que tenha sido diretamente responsável pelas
131 mortes do 13 de novembro no Stade de France, no Bataclan e nas
esplanadas do 11.º bairro já que todos foram abatidos após os ataques,
mas há figuras-chave que terão participado na conceção e preparação dos
atentados.Desde logo Salah Abdeslam, o
único sobrevivente dos operacionais do 13 de novembro que terá
transportado três terroristas até ao Stade de France e deveria utilizar
um colete de explosivos para levar a cabo outro ataque, tendo, no
entanto abandonado os explosivos e fugido para a Bélgica.Outro
acusado que será julgado é Mohamed Abrini que terá acompanhado os
terroristas até à região parisiense, tendo um papel importante no
financiamento e na facilitação de armas para o ataque.Acompanhando
o julgamento que decorre atualmente sobre os ataques de janeiro de
2015, quando a redação do jornal satírico 'Charlie Hebdo' foi visada, e o
subsequente ataque no início de outubro às antigas instalações do
jornal, Patrícia Correia considera que a atuação das autoridades tem
sido "terrível"."É terrível tudo o que se
passou no seguimento do processo 'Charlie Hebdo', com um louco que foi
atacar a antiga redação. O Governo deixou-se invadir por estas
comunidades islâmicas e estamos em perigo", considerou.Passados
cinco anos desde o ataque ao Bataclan, a mãe de Precília Correia
garante que ainda há "feridas que não cicatrizaram" e que os combates
pela memória da filha são a única ajuda possível."O
que me ajuda [no dia a dia] é o meu combate através da associação para
preservar a memória da minha filha, o meu combate junto do Governo para
criar um museu e o meu combate junto da autarquia de Paris para criar um
jardim de memória", concluiu.