Processo de atribuição de nacionalidade "foi normalissímo"
Caso gémeas
22 de out. de 2024, 17:54
— Lusa/AO Online
“Tratou-se
de um processo normalíssimo do ponto de vista da lei. Não havia
qualquer dúvida da nacionalidade originária das duas meninas. Eram
filhas de mãe portuguesa”, salientou Santos Silva, após ser interrogado
pela deputada única do PAN, Inês de Sousa Real. O
ex-governante depôs na comissão parlamentar de inquérito ao caso
das gémeas com atrofia muscular espinal tratadas com o medicamento
Zolgensma no Hospital de Santa Maria, em 2020, em Lisboa. Ainda
em resposta ao PAN, Santos Silva disse que nunca falou com Nuno Rebelo
de Sousa ou com o Presidente da República sobre o caso e que desconhece
se intercederam de forma direta ou indireta “para pedir facilitação ou
agilização” do processo.Na declaração
inicial da audição, que durou mais de uma hora, o ex-ministro disse ter
solicitado documentação ao atual Ministério dos Negócios Estrangeiros
que pudesse “referir direta ou indiretamente o seu nome” no processo
ocorrido no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, em 2019,
relativamente à atribuição da nacionalidade portuguesa, o que não se
comprovou.Santos Silva, que disse apenas
ter tido conhecimento do caso pela televisão em novembro de 2023,
sublinhou que ficou “muito satisfeito” que o então cônsul em São Paulo
tenha autorizado que funcionários consulares pudessem deslocar-se ao
hospital para tratar do processo de naturalização. Entendendo
que o papel de Santos Silva “estaria esclarecido e não faria sentido
estar presente” na comissão, o deputado do PSD António Rodrigues,
todavia, quis saber qual era a “curiosidade” que o ex-ministro tinha em
estar no parlamento a responder perante os deputados, questionando se
não foi “para tirar alguma posição política”. “Não
sou capaz de tamanho maquiavelismo. Intriga-me o seu raciocínio e a sua
lógica. […] Eu não ocupo nenhum lugar institucional hoje em dia, sou um
simples particular”, disse.Por sua vez, o
deputado do PS João Paulo Correia não fez qualquer pergunta e
considerou que a audição de Santos Silva “não acrescenta nada ao objeto
da comissão de inquérito”, apenas faz parte de “uma agenda política”.A
IL, partido que propôs chamar Santos Silva à comissão de inquérito,
rejeitou que esta audição tenha tido uma motivação política ou alguma
suspeita sobre a sua atuação e defendeu que o objetivo passa por
perceber como eram geridos os agendamentos e esclarecer o que Nuno
Rebelo de Sousa queria dizer no email que enviou ao pai, o Presidente da
República, no qual escreveu estar empenhado na obtenção dos cartões de
cidadãos das crianças. Na resposta,
Augusto Santos Silva disse desconhecer essas comunicações e considerou
que dizer que se está envolvido num assunto “não quer dizer que esteja a
tornear a lei”.Sobre os agendamentos para
atos consulares, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros disse ter
conhecimento de que existia “uma espécie de mercado negro”, em vários
países, que o Governo tenta combater, e disse desconhecer se a marcação
para as gémeas passou por esse sistema. Já
ao BE, o antigo presidente da Assembleia da República disse acreditar
que se algum consulado conseguiu identificar responsáveis, terá
reportado às entidades competentes.Ainda
em resposta a Joana Mortágua, Augusto Santos Silva indicou que também
não tem conhecimento de “nenhuma ação de lóbi” de Nuno Rebelo de Sousa
para “angariar negócios ou investimentos usando ligações familiares”,
mas lembrou que, enquanto presidente da Câmara Portuguesa de Comércio de
São Paulo, uma das suas funções passaria por tornar mais fáceis
relações económicas com Portugal.Questionado
pelo líder do Chega se tomou alguma diligência depois de saber do caso,
Santos Silva respondeu que decorre uma investigação judicial e que tem
confiança nas instituições.