Privados alertam que regras impedem abrir novas salas de pré-escolar gratuito
24 de abr. de 2025, 17:26
— Lusa/AO Online
Num
país onde faltam cerca de 10 mil vagas no pré-escolar, o Governo
desenhou um projeto para oferecer mais cinco mil lugares, dando 208
euros por criança e 15 mil euros por cada nova sala que os
estabelecimentos privados abram.O plano
prevê a abertura de 200 novas salas e de outras salas requalificadas
para acolher mais crianças, mas a Associação de Estabelecimentos de
Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) teme que não apareçam novas
salas.“A abertura de novas salas vai ser
muito difícil porque não é viável abrir salas e pagar ordenados com
estes valores. O que haverá é alunos a completar as salas que ainda não
estejam cheias”, avisa o diretor executivo da AEEP, Rodrigo Queiroz e
Melo.Rodrigo e Melo reconhece a
importância da iniciativa que quer contar com o privado para aumentar a
oferta da rede pública de ensino, mas avisa que “os termos dos
protocolos são problemáticos”.Os valores
definidos na portaria publicada na semana passada - 208,05 euros mensais
por criança - são “manifestamente insuficientes” e criariam “um sistema
em cima de trabalho precário”.Segundo a
AEEP, o valor não chega para pagar salários de uma educadora de infância
e uma auxiliar: “É muito fácil ter uma educadora a ganhar 1.500 ou
1.700 euros” e a este valor, que é pago 14 vezes por ano, é preciso
somar outros custos como seguro de trabalho ou segurança social.Além
disso, os acordos a estabelecer entre a tutela e privados serão por um
período de três anos. “E a seguir? Que faço com a sala, a educadora e a
auxiliar? Isto não pode ser um concurso toca e foge, tem de haver um
mínimo de estabilidade”, diz, defendendo um mínimo de três contratos
trianuais.Para Rodrigo Queiroz e Melo,
trata-se de uma questão de “código de trabalho e respeito pelos
trabalhadores”. As instituições "não podem contratar uma pessoa por
apenas três anos (...) nem o Estado pode estar a fomentar a precariedade
laboral”.A manter-se as atuais regras,
não deverá haver muitos privados a abrir novas salas, alerta a AEEP, que
teme que no próximo ano letivo as novas vagas de estabelecimentos
privados e cooperativos sejam residuais e apenas nas “salas que ainda
não estão cheias e onde podem entrar mais alunos” até ao limite máximo
de 25 crianças.A AEEP quer que o atual modelo seja "melhorado substancialmente, mas não destruído”.Outra
das mudanças que pedem ao governo que venha a ser eleito em maio é o
fim do modelo supletivo. A legislação prevê que as famílias só se podem
candidatar ao privado se não conseguirem lugar no público."Se
há X alunos, deve haver X vagas participadas”, defende Rodrigo e Melo,
acrescentando que numa mesma sala não deve haver meninos cujos pais
pagam uma mensalidade e outros que a frequentam gratuitamente: “Ou
Portugal decide que quer o pré-escolar gratuito ou não quer”, disse.“Nós
achamos que a medida faz muito sentido, mas tem que ser completamente
reformulada. Não há nada mais perigoso do que uma boa ideia mal
implantada, porque pode matá-la”, alerta Rodrigo Queiroz e Melo, pedindo
uma revisão da portaria.No mês passado, o
Governo destinou 42,5 milhões de euros para financiar mais vagas, dando
prioridade às famílias mais carenciadas.A
ideia é reforçar a oferta nos concelhos mais carenciados, que se situam
maioritariamente na zona de Lisboa, como Sintra, Seixal, Amadora,
Odivelas, Lisboa e Barreiro.As inscrições
para o pré-escolar já estão a decorrer e os resultados serão afixados a
01 de julho. Só as crianças que não fiquem na rede pública se poderão
candidatar a uma vaga gratuita disponibilizada pelo setor particular e
cooperativo.