Primeiro-ministro francês justifica demissão com falta de condições políticas
6 de out. de 2025, 16:29
— Lusa/AO Online
A
composição do governo, anunciada no domingo à noite, “deu origem ao
despertar de alguns apetites partidários”, lamentou Lecornu numa
declaração a partir da residência oficial em Paris, citado pela agência
de notícias France-Presse (AFP).“Ser
primeiro-ministro é uma tarefa difícil, sem dúvida ainda mais difícil
neste momento. Mas não se pode ser primeiro-ministro quando não existem
as condições” para governar, considerou Lecornu, também citado pela
agência espanhola EFE.Lecornu disse que
tentou “construir um caminho (...) em questões que anteriormente estavam
bloqueadas”, como o seguro de desemprego e a segurança social, para
“restabelecer a gestão conjunta” e delinear um roteiro para tirar a
França da crise.Sébastien Lecornu apresentou hoje a demissão ao Presidente Emmanuel Macron, que a aceitou.Nomeado em 09 de setembro, Lecornu foi alvo de críticas dos opositores depois de revelar parte do executivo no domingo à noite.Lecornu, 39 anos, deveria apresentar a declaração de política geral à Assembleia Nacional francesa na terça-feira.O
primeiro-ministro demissionário enumerou três razões que o impedem de
continuar em funções na declaração que fez à porta de Matigon, a sede do
governo.Disse que os partidos políticos
“às vezes fingiram ignorar a mudança, a profunda rutura que representava
não aplicar o Artigo 49.3 da Constituição”, que permite aprovar leis
sem o acordo do parlamento.Segundo Lecornu, a renúncia à aplicação do artigo em causa destruía o argumento da censura prévia da Assembleia Nacional.Em
segundo lugar, lamentou que “os partidos políticos continuem a adotar
uma postura como se todos tivessem maioria absoluta na Assembleia
Nacional”.Referiu que, durante as três
semanas de negociações que manteve com todo o arco parlamentar, esteve
perto de chegar a um acordo, que as “linhas vermelhas estavam a
tornar-se laranjas e, por vezes, verdes”, e que “estava disposto a
ceder”.“Mas cada partido político quer que o outro adote a sua plataforma completa”, criticou. Em
terceiro lugar, reconheceu que “a composição do governo dentro do
núcleo comum”, os partidos de centro e de direita que compõem o
executivo, “não foi fluida”.Essas tensões
provocaram “o ressurgimento de alguns desejos partidários, por vezes
relacionados (...) com as próximas eleições presidenciais” de 2027,
afirmou Lecornu.O primeiro-ministro
demissionário disse que seria preciso pouco para que um governo
funcionasse, mas defendeu que para isso seria necessário menos
interesses partidários, mais modéstia e “ter em conta o interesse
geral”.Agradeceu ainda a alguns partidos
da oposição que compreenderam que o princípio de construir um
compromisso “é poder combinar linhas verdes e ter em conta um certo
número de linhas vermelhas”, sem estar nos dois extremos.Lecornu
insistiu que, apesar do mapa parlamentar fragmentado, com três blocos
praticamente com o mesmo peso (aliança de esquerda, macronistas e
centristas, e extrema-direita), as forças políticas deveriam “ser
capazes de avançar”.“Pelo menos para que aqueles que querem encontrar um caminho para o país possam avançar”, acrescentou. A
demissão 27 dias após ter sido nomeado, o que o torna o
primeiro-ministro mais efémero da V República, fundada em 1958, abre as
portas a diferentes cenários, incluindo a convocação de eleições
antecipadas.