Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, anuncia a sua demissão
6 de jan. de 2025, 18:15
— Lusa/AO Online
“Tenciono demitir-me
do cargo de líder do partido e de primeiro-ministro assim que o partido
tiver escolhido o seu próximo líder”, disse aos jornalistas na capital,
Otava.Quase 10 anos depois de ter chegado
ao poder, Justin Trudeau, 53 anos, estava sob pressão há semanas, com a
aproximação das eleições gerais e numa altura em que a sua força
política, o Partido Liberal (PL) do Canadá, está mal colocada em
diversas sondagens.“Este país merece uma
verdadeira escolha nas próximas eleições. Tornou-se claro para mim que
se tiver de travar batalhas internas, não posso ser primeiro-ministro”,
disse o governante, que tem estado a enfrentar um descontentamento
crescente em relação à sua liderança.A
saída abrupta da vice-primeira-ministra e ministra das Finanças,
Chrystia Freeland, no final do ano, que discordava de Justin Trudeau
sobre a forma de gerir a guerra económica iminente com os Estados
Unidos, fez transparecer uma turbulência crescente no seio do governo
canadiano. Trudeau referiu que pediu ao presidente do Partido Liberal que inicie o processo de seleção de um novo líder.Segundo
fontes governamentais, o parlamento, que deveria ser retomado a 27 de
janeiro, será suspenso pelo menos até 24 de março, data que permitirá a
realização de uma corrida à liderança do Partido Liberal.Trudeau
chegou ao poder em 2015, após 10 anos de governo do Partido
Conservador, e foi inicialmente elogiado por fazer o país regressar ao
seu passado liberal.Mas o também filho
mais velho de Pierre Elliott Trudeau, um dos primeiros-ministros mais
conhecidos do Canadá (primeiro entre 1968 e 1979 e depois entre 1980 e
1984), tornou-se profundamente impopular entre os eleitores nos últimos
anos devido a uma série de questões.Trudeau
sofre atualmente de um baixo índice de popularidade, sendo
responsabilizado pela elevada inflação do país, bem como pela crise da
habitação e dos serviços públicos e pelo aumento da imigração. Com uma
minoria no parlamento, foi enfraquecido pela retirada do seu aliado de
esquerda e pelo crescente descontentamento dentro do seu próprio
partido.Trudeau, que tinha anunciado a
intenção de se candidatar à reeleição, está a mais de 20 pontos
percentuais do seu rival conservador, Pierre Poilievre, nas sondagens.
As próximas eleições legislativas deverão realizar-se o mais tardar em
outubro de 2025.A campanha dentro do
Partido Liberal pode durar vários meses e, mesmo que o processo seja
acelerado, é pouco provável que Trudeau deixe o cargo em breve. Por
conseguinte, deverá continuar a ser primeiro-ministro a 20 de janeiro,
data da tomada de posse do Presidente eleito norte-americano, Donald
Trump.As declarações de Donald Trump nas
últimas semanas agravaram a crise política do Canadá e provocaram uma
onda de choque em todo o país. O país
procura uma resposta para as ameaças do Presidente eleito, que prometeu
impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México assim que regressar ao poder.Os
Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Canadá e o destino de
75% das suas exportações. Cerca de dois milhões de canadianos, numa
população de 41 milhões, dependem dos Estados Unidos.O
contexto político atual é “altamente invulgar”, comentou à agência
noticiosa France-Presse (AFP) Lori Turnbull, professora da Universidade
de Dalhousie.Durante o período festivo,
várias personalidades trabalharam nos bastidores para assumir a
liderança do partido e, segundo uma fonte do Partido Liberal, o
ex-governador do Banco do Canadá, Mark Carney, 59 anos, conselheiro
económico do partido desde o verão passado, fez numerosos telefonemas
nos últimos dias para obter o seu apoio. Tal como a antiga
vice-primeira-ministra Chrystia Freeland.O partido deverá realizar uma reunião importante na quarta-feira.Mas
há uma série de desafios à espera do sucessor de Trudeau, segundo os
especialistas, que apostam numa vitória dos conservadores nas próximas
eleições.“É uma causa perdida”, afirmou
André Lamoureux, especialista em ciências políticas da Universidade do
Quebeque em Montreal (UQAM).“Ninguém no Partido Liberal está hoje em condições de recriar um entusiasmo, um movimento de adesão”, destacou o académico.Justin
Trudeau procurou durante muito tempo o seu próprio caminho, nas mais
diversas atividades: pugilista amador, instrutor de snowboard, professor
de inglês e francês.Enquanto
primeiro-ministro, fez do Canadá o segundo país do mundo a legalizar a
canábis, introduziu a assistência médica na morte e um imposto sobre o
carbono, lançou um inquérito público sobre as mulheres aborígenes
desaparecidas e assassinadas e pretende ainda assinar uma versão
atualizada do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA).