Presidente queniano diz não ter "sangue nas mãos" pela repressão mortífera de protestos
1 de jul. de 2024, 11:57
— Lusa/AO Online
"Não tenho sangue nas minhas
mãos. De acordo com os números de que disponho, morreram 19 pessoas. É
muito lamentável. Como democracia, isto não deveria fazer parte da nossa
conversa", afirmou o chefe de Estado numa entrevista à televisão
queniana."Haverá um inquérito sobre a
morte destes 19 quenianos. Haverá uma explicação para cada um deles",
prometeu, acrescentando que "a polícia fez o seu melhor" e que "se houve
excessos” existem “mecanismos para garantir que esses excessos são
resolvidos".O número avançado pelo
Presidente constitui o primeiro registo oficial dos mortos feitos pela
polícia no dia de protestos, que abriu fogo sobre os manifestantes que
invadiram o parlamento, após a votação do projeto de orçamento para
2024-25, que incluía aumentos de impostos. No
sábado, a organização não-governamental Human Rights Watch afirmou ter
registado, pelo menos, 31 mortes em várias cidades do país. Já a agência oficial queniana de proteção dos direitos humanos (KNHRC) calculou em 22 o número de mortos na terça-feira.Várias
centenas de pessoas - na sua maioria jovens - marcharam hoje
pacificamente pela capital do Quénia, Nairobi, em homenagem às vítimas,
exibindo cartazes com as palavras ordem "Ruto Must go" [Ruto tem que
sair] e "Tuesday Holiday" [terça-feira feriado], em referência ao
próximo dia de manifestações, agendado para a próxima terça-feira.No
dia seguinte à repressão mortífera da manifestação, Ruto anunciou que
ia retirar o projeto de orçamento que tinha desencadeado os protestos,
mas o movimento de contestação do chefe de Estado - que está a mobilizar
fortemente os jovens - tem vindo a catalisar um descontentamento
público mais amplo em relação às políticas do governo.Eleito
em agosto de 2022 com a promessa de defender os mais pobres, Ruto
introduziu desde então medidas de austeridade e aumentou uma série de
impostos que afetaram duramente o poder de compra dos quenianos.