Presidente não deve tomar posse se abstenção for "uma vergonha"
Presidenciais
12 de jan. de 2021, 12:40
— Lusa/AO Online
“Vai ser uma
vergonha se votarem só 10%, 12% ou 15%. Imagine que o [candidato] que
for eleito Presidente da República é eleito por 10% dos votantes. Deviam
ter vergonha de tomar posse (…). Acho que se não houvesse 50% dos
votantes na eleição, não devia ser vinculativa. O Presidente da
República não devia sequer tomar posse. Acredito nisto. É o que defendo
neste momento”, disse Vitorino Silva, popularmente conhecido como “Tino
de Rans”, em entrevista à agência Lusa.O
também líder e fundador do RIR (Reagir, Incluir e Reciclar) volta a
candidatar-se a Belém depois de ter recolhido 152 mil votos (3,28%) nas
presidenciais de há cinco anos. Este ano
Vitorino Silva receia “uma rachadela na democracia”, provocada pela
pandemia, que agrave a abstenção em Portugal, que há cinco anos foi de
51,34%, de acordo com dados do Ministério da Administração Interna. Por
isso, o candidato é favorável ao adiamento das eleições, agendadas para
24 de janeiro, considerando que era possível “se os políticos
quisessem”. “Se houvesse um terramoto em
Lisboa ou no país, de certeza que as eleições eram adiadas. Isso é
treta. Defendo as eleições adiadas porque temos de ser responsáveis e
temos de ter pulso. Neste momento não vejo políticos com coragem”,
sublinhou.Questionado sobre a
impossibilidade de fazer uma revisão constitucional para adiar o
sufrágio durante a vigência do estado de emergência, decorrente da
pandemia e até ao dia das eleições, em 24 de janeiro, Vitorino Silva
considerou que poderia ter sido feita nos últimos meses de 2020, uma vez
que eram expectáveis o aumento de infeções pelo SARS-CoV-2 no início do
ano e a descida das temperaturas.“Em
outubro. pedi uma reunião ao Presidente da República no Palácio de
Belém, com o RIR, e em que dissemos que em janeiro faz um frio de
rachar. Aquilo que sempre disse deixei lá. De outubro até aqui, o
Presidente tem o contacto de todos os líderes partidários, e se eles se
quisessem juntar, tenho a certeza de que era um tema consensual e
alteravam a Constituição”, prosseguiu.O
candidato acrescentou que os atores políticos envolvidos na revisão
constitucional que permitiria este adiamento do sufrágio nacional em
outubro "tinham tempo”, uma vez que “sabiam” que o número de contágios
“estava a evoluir”.Vitorino Silva
mostrou-se convicto de que os debates que protagonizou com os outros
seis candidatos – que, inicialmente, não estavam previstos – alavancaram
uma “visibilidade” que a candidatura que não tinha em 2016.Esta
maior notoriedade da candidatura é consequência da vontade da população
“que estava com os olhos bem abertos” e que sabe que “chegou a hora de o
povo atingir o papel principal”.Apesar de
um outro candidato, André Ventura – presidente do Chega e deputado
único do partido no parlamento –, se reclamar como fora do sistema,
Vitorino Silva refuta esta ideia, considerando que os portugueses
percebem que esse título é atribuído à sua candidatura.“[O
povo] sabe que é uma candidatura fora do sistema, genuína, verdadeira,
de uma pessoa que não está hipotecada a ninguém. O pessoal está farto de
ver candidaturas que não estão ali ao serviço de Portugal, mas ao
serviço de interesse e dos partidos”, explicitou.O
candidato criticou os adversários que têm o apoio de partidos, uma vez
que “o cargo de Presidente da República é uninominal” e são “pessoas que
vão contra pessoas, não partidos contra partidos”. Apesar
estar associado ao RIR, Vitorino explicitou que “a primeira coisa” que
fez depois de anunciar a recandidatura “foi dar liberdade de voto a
todos os militantes” do partido.“Sou
candidato, não só para as pessoas que votaram em mim há cinco anos, mas
também para aqueles milhões e milhões que não votaram [em mim] e se
arrependeram. Há muita gente que na rua, é a minha sede, o meu gabinete,
que me dizem que não votaram em mim, mas que desta vez vão votar”,
afirma o candidato, que se considera “mais povo” do que os restantes.Vitorino
Silva não 'se cola' a partidos, mas acredita que o passado como
socialista lhe vai valer vários votos de militantes do PS, mais até do
que para a candidata socialista Ana Gomes, que acusa de ser pouco
ambiciosa na corrida a Belém.“O PS é um
partido com nome na praça. Há uma candidata do PS que o sonho dela é
ficar em segundo, à frente do André Ventura. O PS não pode apoiar uma
pessoa que quer ficar em segundo. O PS vai apoiar, e em peso, um homem
que vai lutar pelo primeiro lugar”, sustenta.Sobre
os últimos cinco anos da Presidência, o candidato conhecido pelas
alegorias não deu 'nota máxima' a Marcelo Rebelo de Sousa: “Acho que não
se esforçou para ter um 18 ou um 19, não quer dizer que numa parte do
mandato não estivesse ali a ganhar o 18 ou o 19, mas fraquejou um
bocadinho.”A crítica principal a um Presidente que ficou aquém dos 20 valores foi a falta de “distanciamento de António Costa”.Vitorino
Silva garantiu ainda que o RIR “foi criado para ir a votos” e vai
participar nas eleições autarquias de 2021, em alguns “sítios sozinho,
noutro em consórcio”, apesar de não revelar onde e com que forças
políticas estão a ser ponderadas as coligações.