Presidente entra em novo capítulo com Governo de maioria absoluta
Marcelo/6 anos
8 de mar. de 2022, 15:57
— Lusa/AO Online
Este
novo quadro político, saído das eleições legislativas antecipadas que
convocou no fim do ano passado, significa que António Costa poderá ser o
único primeiro-ministro com quem irá conviver enquanto Presidente da
República, tendo em conta que a próxima legislatura se estende seis
meses para lá do seu segundo mandato, que termina a 09 de março de
2026.O seu
sexto aniversário como Presidente acontece num momento de guerra na
Ucrânia, onde a 24 de fevereiro a Federação Russa iniciou uma ofensiva
militar com invasão por forças terrestres e bombardeamentos, e no plano
interno coincide com um período de transição entre governos – mais longo
porque, devido à mistura de votos válidos com votos considerados nulos,
o Tribunal Constitucional determinou a repetição de eleições no círculo
da Europa.Desde
as legislativas de 30 de janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta,
o Presidente da República remeteu-se ao silêncio sobre a conjuntura
política nacional até ao discurso que fará na posse do XXIII Governo
Constitucional, prevista para 29 de março.Ainda
antes de ser eleito, Marcelo Rebelo de Sousa expôs o seu guião para o
exercício dos poderes presidenciais, na Voz do Operário, em Lisboa, a
24 de outubro de 2015, e atribuiu ao Presidente um papel variável, de
"maior apagamento" ou "maior relevo", consoante o quadro político."Se
houver uma maioria absoluta de um partido ou de uma coligação, muito
coesos e com um líder forte no Governo, o Presidente tende a apagar-se.
Se houver uma maioria absoluta com uma coligação instável, o Presidente
ganha mais peso. Se houver uma maioria relativa, o Presidente ganha
ainda maior relevo. Se houver crise nos partidos, cisões e instabilidade
no parlamento, o Presidente pode chegar a ter um poder particularmente
decisivo, embora sempre no respeito da Constituição", disse."E,
à margem destas situações, conta muito o estilo do Presidente, e conta
muito se ele está no primeiro ou no segundo mandato e, neles, mais perto
do começo ou mais perto do fim", acrescentou o então candidato
presidencial, na altura com 67 anos, agora com 73.O
professor universitário de Direito, entretanto jubilado, antigo
presidente do PSD, entre 1996 e 1999, e comentador político televisivo
durante 15 anos, apresentou-se a eleições como um moderado, vindo da
"esquerda da direita", apostado em "fazer pontes", e foi eleito à
primeira volta nas presidenciais de 24 de janeiro de 2016, com 52% dos
votos expressos.No
seu primeiro mandato de cinco anos, iniciado a 09 de março de 2016,
Marcelo Rebelo de Sousa encontrou no poder uma solução inédita de
governação minoritária do PS suportada no parlamento pelos partidos à
sua esquerda, BE, PCP e PEV – à qual o seu antecessor, Aníbal Cavaco
Silva, tinha dado posse com reservas e advertências, após exigir acordos
por escrito –, chefiada por António Costa, seu antigo aluno.Num
contexto de crispação e bipolarização, o novo chefe de Estado
desdramatizou a solução governativa vigente, denominada "Geringonça", e
assumiu funções prometendo "afetos, proximidade, simplicidade e
estabilidade".A
estabilidade política prevaleceu durante todo o seu primeiro mandato,
em que se afirmou como um Presidente popular e interventivo, no centro
da vida política, com atividade intensa e presença mediática constante,
em contacto próximo e informal com os cidadãos.Quando
a legislatura estava perto de se concluir, descreveu o quadro político
em Portugal como "uma combinação única" de elementos que obrigava "a um
equilíbrio constante entre o Governo e a base de apoio parlamentar, e a
um equilíbrio entre o Governo e o Presidente da República", observando:
"É uma coabitação especial".Na
sequência das legislativas de 04 de outubro de 2019, que o PS venceu
sem maioria absoluta, Marcelo Rebelo de Sousa deu posse a um segundo
executivo minoritário do PS chefiado por António Costa, já sem o suporte
de acordos escritos – condição que o próprio chefe de Estado considerou
desnecessária e que o PCP rejeitava.O
Presidente apelou a que continuasse a ser a "Geringonça" a aprovar
orçamentos, desaconselhando "soluções pontuais", mas a partir de 2020 a
maioria começou a desfazer-se: PCP e PEV votaram contra o Orçamento
Suplementar para aquele ano, meses mais tarde o BE votou contra o
Orçamento para 2021.Quase
até ao fim do seu primeiro mandato presidencial, manteve em aberto
candidatar-se a um segundo, o que só anunciou a 07 de dezembro de 2020.Em
plena pandemia de covid-19 e consequente crise económica e social, que
marcou os últimos dois anos da política nacional, Marcelo Rebelo de
Sousa foi reeleito com 60,67% dos votos expressos, à primeira volta, nas
presidenciais de 24 de janeiro de 2021, eleições em que o PS optou por
não dar apoio a nenhum candidato, mas aprovou uma moção com "avaliação
positiva" do seu primeiro mandato.Ao
tomar posse para um segundo mandato, a 09 de março de 2021, o
Presidente da República declarou que era "o mesmo de há cinco anos" e
assegurou que "assim será, com qualquer maioria parlamentar, com
qualquer Governo".Entre
as prioridades para os próximos cinco anos, elegeu a defesa de
uma "melhor democracia", com "convergência no regime e alternativa clara
na governação" e "estabilidade sem pântano".Seis
meses mais tarde, a maioria à esquerda desfez-se de vez, na votação na
generalidade do Orçamento do Estado para 2022, a 27 de outubro de 2021,
em que BE, PCP e PEV juntaram os seus votos aos da direita para
rejeitar a proposta do Governo, e o Presidente da República acabou o ano
a dissolver o parlamento, cenário para o qual tinha avisado com
antecedência."É
o único caminho que permite aos portugueses reencontrarem-se neste
momento com os seus representantes nacionais, decidirem o que querem
para os próximos anos, que são anos determinantes, em efeitos da
pandemia, em volume de fundos, para reconstruir a economia e a
sociedade, e escolherem aquelas e aqueles que irão o mais rapidamente
possível votar o Orçamento que faz falta a Portugal", defendeu.Numa
comunicação a partir do Palácio de Belém, em 04 de novembro, sustentou
que as divergências na base de apoio parlamentar do Governo eram "de
fundo, de substância", "inultrapassáveis", e que "não havia a terceira
via" de esperar por outra proposta de Orçamento.Marcelo
Rebelo de Sousa tornou-se o quinto Presidente da República consecutivo a
utilizar a chamada "bomba atómica", que decretou oficialmente a 05 de
dezembro, convocando eleições para 30 de janeiro.Das
legislativas antecipadas resultou uma maioria absoluta do PS e uma
Assembleia da República reconfigurada, sem CDS-PP e PEV, que não
conseguiram representação parlamentar, e as subidas de Chega e
Iniciativa Liberal a terceira e quarta maiores bancadas, seguindo-se
PCP, BE, PAN e Livre.