Presidente dos Estados Unidos comuta pena de 37 dos 40 condenados à morte
24 de dez. de 2024, 11:03
— Lusa/AO Online
Os ativistas temiam uma vaga de execuções no mandato de Donald Trump.Trata-se
do "maior número de comutações da pena de morte por um presidente
americano nos tempos modernos", segundo as organizações de defesa dos
direitos humanos, que há semanas vinham a fazer campanha para convencer
Joe Biden.As sentenças de morte federais e
as execuções federais são raras, sendo a grande maioria efetuada pelos
tribunais de cada um dos 50 estados. As 25 execuções levadas a cabo no
país em 2024 concentraram-se em nove estados.Dos
cerca de 2.300 prisioneiros no corredor da morte nos Estados Unidos,
apenas 40 tinham sido condenados pelos tribunais federais até à medida
de clemência de Joe Biden. Excluídos, nomeadamente, três autores de
atentados que chocaram o país.Martin
Luther King III, filho do líder do movimento dos direitos civis, saudou
este como "um dia histórico". Nas suas palavras, "o Presidente Biden fez
o que nenhum presidente antes dele esteve disposto a fazer: tomar
medidas significativas e duradouras não só para reconhecer as raízes
racistas da pena de morte, mas também para remediar a sua injustiça
contínua"."Com o golpe de uma caneta, o
Presidente assegura a sua posteridade como um líder que luta pela
justiça racial, pela humanidade e pela moralidade", declarou Anthony
Romero, diretor da poderosa organização de defesa dos direitos civis
ACLU, agradecendo-lhe a decisão "histórica e corajosa".Cerca
de 40% dos condenados à morte pelo sistema judicial federal são negros,
apesar de esta comunidade representar apenas 12% da população americana
adulta, segundo a ONG “Southern Poverty Law Center”, uma das mais de
130 organizações que recordaram a Joe Biden, a 9 de dezembro, o seu
compromisso de campanha de 2020 contra a pena capital.Estas organizações alertaram para uma "vaga de execuções" durante o mandato de Donald Trump, que lhe sucederá em 20 de janeiro.A
Amnistia Internacional dos EUA, outra das organizações, agradeceu a Joe
Biden por lhes ter dado ouvidos, mas pediu-lhe que fosse ainda mais
longe, "comutando todas as sentenças de morte federais e militares".
Estas últimas são quatro."Hoje estou a
comutar as sentenças de 37 dos 40 indivíduos no corredor da morte da
justiça federal para prisão perpétua sem possibilidade de liberdade
condicional", anunciou Joe Biden num comunicado de imprensa.Joe
Biden justificou nomeadamente estas comutações com a preocupação de
coerência com a moratória sobre as execuções federais decretada em maio
de 2021 pela sua administração, com exceção dos atos de "terrorismo e
assassinatos motivados pelo ódio".Consequentemente, três reclusos no corredor da morte estão excluídos da medida de clemência.São
eles Djokhar Tsarnaev, um dos bombistas da Maratona de Boston a 15 de
abril de 2013, Dylann Roof, o supremacista branco que matou nove
afro-americanos numa igreja em 2015, e Robert Bowers, o autor de um
ataque armado a uma sinagoga em 2018 que matou 11 pessoas, o ataque mais
mortífero contra judeus na história dos EUA.O
presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, por
outro lado, denunciou a decisão de Joe Biden a favor de 37 condenados,
denunciando na rede social X "uma bofetada na cara das famílias que
sofreram incomensuravelmente por causa destes animais".As
últimas execuções federais datam do final da presidência de Donald
Trump. Após um hiato de 17 anos, 13 pessoas foram condenadas à morte
entre 14 de julho de 2020 e 16 de janeiro de 2021, "mais do que nas dez
administrações anteriores combinadas", recordaram as organizações.Durante
a campanha, o candidato republicano apelou ao alargamento do âmbito de
aplicação da pena de morte, nomeadamente aos imigrantes condenados por
assassínio de cidadãos americanos e aos traficantes de droga e de seres
humanos.A pena de morte foi abolida em 23 dos 50 Estados americanos. Seis Estados aplicam uma moratória às execuções.