Presidente do parlamento da Madeira diz que o centralismo “retira poderes e usurpa bens” da região
19 de jul. de 2022, 12:11
— Lusa/AO Online
“A nega dos
últimos dias do Tribunal Constitucional a uma gestão partilhada dos
mares da Madeira e dos Açores pelas Regiões Autónomas e pelo Estado veio
confirmar que, nas mais altas instituições da Nação, há pessoas que não
percebem o que é a autonomia, ou então desconfiam dos seus órgãos de
governo próprio, e isso é inaceitável”, declarou. José
Manuel Rodrigues falava na sessão solene comemorativa dos 46 anos da
Assembleia Legislativa, no Funchal, na qual disse que, apesar de haver
uma “Madeira antes e uma Madeira depois da autonomia”, esta não é um
“dado adquirido” nem uma “irreversibilidade histórica”.O
presidente do parlamento madeirense deu como exemplo do centralismo do
Estado o recente acórdão do Tribunal Constitucional (TC), que considerou
inconstitucionais duas normas da Lei de Bases da Política de
Ordenamento e de Gestão do Espaço Marítimo Nacional sobre a partilha
entre a República e as regiões autónomas.José
Manuel Rodrigues lembrou que o presidente do TC, João Caupers, votou
vencido contra a decisão, indicando que esta reflete “o ancestral pendor
centralista da cultura política dominante” em Portugal.“Este
libelo acusatório do presidente do Tribunal Constitucional vem
demonstrar o quanto temos razão quando nos insurgimos contra a cultura
centralista de uma grande parte da classe política de Lisboa que ainda
não ultrapassou os complexos do fim do império”, afirmou.O
presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, que ocupa o cargo por
indicação dos centristas no âmbito do Governo regional de coligação
PSD/CDS-PP, lamentou, por outro lado, que, nas democracias, os
parlamentos sejam sempre os “parentes menos apreciados e os mais
criticados”.“Os seus detratores,
naturalmente os extremistas e populistas, fazem por esquecer que é nos
parlamentos que residem a legitimidade democrática e a soberania popular
expressa nas eleições”, disse, sublinhando: “Cabe a todos, sem exceção,
cuidar da credibilidade e do prestígio desta Assembleia, já que ela é o
baluarte da democracia e a fortaleza da autonomia”. Esta
argumentação esteve também presente nas intervenções dos representantes
dos cinco partidos com presença no parlamento madeirense – PSD e CDS-PP
(partidos que suportam o executivo regional), PS, JPP e PCP –, mas a
oposição destacou ainda várias imperfeições. “Temos
de lutar todos os dias por mais e melhor autonomia e democracia”, disse
o líder da bancada socialista, Rui Caetano, considerando que o
parlamento regional “nunca foi bem tratado” pelos governantes do PSD e
que a maioria social-democrata, agora com apoio dos centristas, marca o
debate parlamentar por “insultos premeditados, ofensas pessoais e cenas
de teatro”. “Estas maneiras são a prova de que o PSD não sabe governar numa democracia plena”, declarou. Rafael
Nunes, do JPP, criticou a “postura autoritária e desonesta” do PSD,
vincando que, por isso, a Assembleia Legislativa é cada vez mais acusada
de “negligência na fiscalização ao governo”, ao passo que o deputado
único do PCP, Ricardo Lume, acusou a coligação PSD/CDS-PP de “perverter
os princípios estruturais da democracia”, forçando o parlamento a “virar
as costas à sociedade” no processo legislativo, sobretudo ao evitar
ouvir os representantes dos trabalhadores.Pelo
PSD, o deputado Adolfo Brazão considerou que o trabalho parlamentar é
“evolutivo, dinâmico e crescente”, realçando que o “parlamento não é um
ringue”, embora tenha acusado a oposição de ser “altiva” e apresentar
uma “postura de confronto”.Lopes da
Fonseca, do CDS-PP, destacou, por seu lado, a importância da Assembleia
Legislativa no processo autonómico, sublinhando que este em nada se
compara com os outros processos de descentralização e regionalização.No
âmbito das comemorações dos 46 anos da Assembleia Legislativa da
Madeira, foi hoje inaugurado o centro de estudos IDEIA – Investigação e
Divulgação de Estudos e Informação sobre a Autonomia, no Funchal, e
atribuído o Prémio Emanuel Rodrigues (primeiro presidente do parlamento
regional) ao jornalista Paulo Santos (Atenta 1/RTP-Madeira), pelo
trabalho de investigação referente ao período de abril de 1974 ao
segundo semestre de 1976.