Presidente do Hospital da Ilha Terceira nega ter favorecido esposa em cargo de nomeação
24 de mai. de 2022, 14:09
— Lusa/AO Online
“Não houve aqui qualquer
favorecimento em termos político-partidários, nem qualquer favorecimento
pessoal”, afirmou o administrador do Hospital de Santo Espírito da Ilha
Terceira (HSEIT), José Fernando Gomes, em Angra do Heroísmo, numa
audição na comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa dos
Açores, solicitada pelo BE.Licínia Gomes,
funcionária do hospital e esposa do presidente do conselho de
administração, foi nomeada, no início de maio, para o cargo de diretora
do departamento de gestão de utentes, que já tinha ocupado no passado,
mas acabou por renunciar.O presidente do
conselho de administração do HSEIT assegurou, em comissão, que “foram os
restantes membros do conselho de administração” que tomaram a decisão,
numa deliberação na qual não participou, e que a escolha se prendeu com o
currículo da funcionária e não com o facto de ser sua familiar.“É
uma técnica que tem uma experiência na área da saúde de 31 anos e no
cargo de diretora de serviços de gestão de utentes esteve cerca de 21
anos, razão pela qual, de entre outras, foi nomeada novamente”, afirmou.José
Fernando Gomes, ex-autarca do PSD, lembrou que a funcionária em causa
já tinha sido nomeada anteriormente para cargos semelhantes no hospital,
no tempo em que o PS governava a região, acrescentando que não era
prática da unidade de saúde abrir concursos para este tipo de cargo.“Perante
o currículo da administradora hospitalar em causa, nomeada durante 21
anos, não restam quaisquer dúvidas. Ninguém pode pôr em causa que, desta
vez, tenha sido uma nomeação por favorecimento familiar ou de outra
natureza. O currículo fala por si”, apontou.O
administrador defendeu que Licínia Gomes era “a pessoa mais indicada”
para o cargo e que foi discriminada por ser sua familiar direta.“A
equidade é um valor que tem duas faces. Não deve implicar
favorecimento, mas também não deve ser discriminatória. Neste caso, em
concreto, foi discriminatória, porque pôs em causa as qualificações e a
experiência da pessoa”, alegou.Instado a
comentar o caso, no dia 09 de maio, o presidente do Governo Regional dos
Açores (PSD/CDS-PP/PPM), José Manuel Bolieiro, disse não considerar
“aceitável” a nomeação e acrescentou que o assunto seria “resolvido de
imediato”.José Fernando Gomes recusou
comentar as declarações do chefe do executivo, mas assegurou que a
funcionária comunicou a decisão de não aceitar o cargo dias antes de
José Manuel Bolieiro se ter pronunciado, não por motivos éticos, mas
porque não quis sujeitar-se a um “vexame público desnecessário”.Ouvido
também em comissão, o secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio
Meneses, rejeitou ter tido qualquer intervenção na nomeação.“Para
nós, é um não assunto, na medida em que, desde logo, o Governo Regional
não participou neste processo. É uma competência do conselho de
administração. Não houve qualquer intervenção do Governo Regional nesta
nomeação”, avançou.O governante disse que
foi informado da deliberação e que, “no dia seguinte, houve uma conversa
do senhor presidente do Governo [Regional] com o senhor presidente do
conselho de administração” do hospital, mas alegou não saber se a
renúncia ocorreu antes ou depois.“O senhor
presidente do governo pronunciou-se, está resolvido. A intervenção que
teria de haver foi tida pelo senhor presidente do governo”, reiterou.Clélio
Meneses acusou os deputados da oposição de tentarem “criar um caso
meramente pessoal e político”, alegando que noutros governos também
houve “nomeações de familiares”.“Mantive
em funções o sogro do presidente do Governo do Partido Socialista, que
estava nomeado para a Unidade de Saúde de Ilha de São Miguel”, referiu.A
deputada do BE Alexandra Manes considerou que, mesmo não sendo
“obrigatório”, devia ter sido aberto um concurso para o cargo, alegando
que teria “evitado toda a celeuma que foi gerada”, porque estava em
causa “uma questão de transparência e de conflito de interesses”.Já
o deputado José Pacheco, do Chega, defendeu que, quando as coisas
“estão resolvidas”, se deve “pôr uma pedra sobre o assunto” e que o caso
deve servir “de lição para que não se repita”.“Neste
momento, temos um caso no Corvo. Se calhar devíamos estar todos muito
mais inclinados sobre ele a tentar perceber o que se passou”, afirmou.Tiago
Lopes, do PS, disse que este caso, “a somar a outros”, veio criar uma
“neblina indesejável”, revelando que a Direção Regional da Saúde
celebrou um contrato de prestação de serviços, sem abrir concurso, “com o
marido da diretora clínica” do mesmo hospital.Clélio
Meneses justificou este caso em particular com a “urgência” do
procedimento, face ao “estado degradadíssimo das infraestruturas de
saúde da região” e face à necessidade de aproveitamento das verbas
comunitárias existentes.