Presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável diz que Açores não precisam limitar turistas
5 de dez. de 2019, 18:44
— Lusa/AO Online
“Não é preciso fixar o número de
turistas que uma região quer, mas se está a promover, por exemplo,
observação de aves, quer que os participantes desfrutem dessa atividade e
quer criar condições para uma visita de qualidade. Na minha opinião,
não há um problema de limitação de turistas neste momento nos Açores, é
um problema que outros destinos estão a sofrer”, adiantou.Luigi
Cabrini falava, em declarações aos jornalistas, à margem do congresso
anual do Global Sustainable Tourism Council [Conselho Global de Turismo
Sustentável], organismo internacional de acreditação para a certificação
de turismo sustentável, que reúne cerca de três centenas de
participantes de 42 nacionalidades em Angra do Heroísmo, na ilha
Terceira, nos Açores.Na abertura do
congresso, o presidente do organismo alertou para os desafios que o
crescimento do número de turistas colocam ao desenvolvimento sustentável
das regiões, lembrando que já existem 1,4 mil milhões de turistas a
viajar todos os anos.Questionado sobre o
caso concreto dos Açores, certificados hoje como destino turístico
sustentável, Luigi Cabrini disse que o arquipélago é um exemplo de boas
práticas nesta área.“Os Açores são um
exemplo do lado bom do turismo. Temos um destino em que até a promoção
do arquipélago é feita tendo em conta o valor real das ilhas, a cultura,
o ambiente, as tradições, a forma como prepararam os queijos, etc”,
avançou.Para o responsável do Conselho
Global de Turismo Sustentável, o fator mais importante para assegurar a
sustentabilidade de um destino turístico é existir uma “estratégia” e
que setor público e privado trabalhem em conjunto na sua implementação. “Não
se pode apenas promover o destino, esperar que os turistas venham e
lidar com as situações caso a caso. É preciso planear antecipadamente e
colocar empenho nos produtos que se quer vender, preservando o destino”,
salientou. O processo, referiu, deve
envolver todos os agentes do setor, desde operadores internacionais,
companhias áreas, espaços de alojamento e guias turísticos.Segundo
Luigi Cabrini, o certificado atribuído hoje aos Açores é prova de que a
região tem respondido ao desafio, mas é preciso que o continue a fazer
no futuro.“O número de turistas vai
provavelmente aumentar nos Açores, mas acho que há espaço para esse
crescimento. É preciso ter sempre essa gestão em conta para evitar o que
aconteceu noutros destinos, em que a qualidade do turismo se deteriorou
e em que os residentes estão a sentir que os impactos negativos do
turismo são superiores aos benefícios”, alertou.Também
a secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores, Marta
Guerreiro, disse que o arquipélago quer “continuar a crescer em
quantidade”, porque tem condições para isso, mas “acima de tudo crescer
em qualidade”.“O turismo só é bom para os
Açores se for bom para os açorianos”, sublinhou, alegando que muitos dos
critérios da certificação diziam respeito a questões sociais. Marta
Guerreiro considerou que é natural que em algumas zonas do arquipélago
com maiores fluxos turísticos a população manifeste preocupação com o
impacto do turismo na sua qualidade de vida, mas assegurou que os Açores
estão num caminho que permite um crescimento do turismo “sem
comprometer o património ambiental”. “Nós
temos na região já em algumas áreas sensíveis limitações. Posso dar
vários exemplos: a montanha da ilha do Pico, a Caldeira do Faial, o
ilhéu da Praia, na Graciosa, a Caldeira Velha, o ilhéu de Vila Franca
[São Miguel]. Essa realidade já existe. Mais importante que estas
limitações específicas é a gestão que tem de ser feita de todas as
pressões que existem das várias áreas. A nossa preocupação é ir
monitorizando e percebendo quando é que determinada área precisa de ter
alguma limitação introduzida ou revista”, apontou.