Presidente do Conselho Europeu pede que UE “não seja um museu do mundo” e se fortaleça
25 de out. de 2024, 12:22
— Ana Matos Neves/Lusa/AO Online
“Sou
membro do Conselho Europeu há 10 anos [cinco anos como
primeiro-ministro belga e cinco anos como presidente] e isso faz de mim
um dos veteranos. Dentro de algumas semanas, deixarei este cargo e tenho
algumas lições desta experiência, desde logo a ideia de que temos de
fazer tudo para não nos tornarmos o museu do mundo”, diz Charles Michel.Em
entrevista à Lusa e outras agências de notícias europeias no âmbito do
projeto European Newsroom (Redação Europeia), em Bruxelas, o responsável
vinca que, nas recentes crises – como a saída do Reino Unido da União
Europeia, a pandemia de covid-19 e a invasão russa da Ucrânia - “a União
Europeia [UE] demonstrou que foi capaz de promover o desenvolvimento
económico, o crescimento e a coesão social”.“Mas
sinto que este é um ponto de viragem e é extremamente importante para o
futuro manter o mesmo nível de ambição que tivemos no passado, a mesma
paixão por este projeto europeu, e é por isso que eu penso que o que
estamos a fazer no Conselho Europeu […] será uma peça fundamental no
puzzle do futuro”, acrescenta, aludindo aos planos para reforçar a
competitividade europeia que serão abordados na última cimeira europeia
que presidirá, o Conselho Europeu de 08 de novembro em Budapeste, no
âmbito da presidência húngara rotativa da UE.Para
Charles Michel, a reunião de alto nível em Budapeste, realizada dias
depois das eleições presidenciais norte-americanas, deverá permitir “dar
um passo muito sério em direção a uma maior ambição no domínio do
crescimento, da inovação e da competitividade”.“Por
favor, não sejam um museu do mundo”, reforça, salientando que a UE deve
ter “mais soberania, mais influência no mundo”, nomeadamente face aos
concorrentes Estados Unidos e China.Nesta
entrevista, Charles Michel reafirma estar “absolutamente convencido e,
mais do que nunca”, de que a UE estará em condições de acolher novos
Estados-membros a partir de 2030, quando existem nove países candidatos
(Albânia, Bósnia-Herzegovina, Geórgia, Moldova, Montenegro, Macedónia do
Norte, Sérvia, Turquia e Ucrânia) e um potencialmente candidato
(Kosovo).“É um absurdo se a UE não
acelerar" o processo, considera, argumentando que o espaço comunitário
deve também “realizar os seus trabalhos de casa” e “preparar-se” através
de reformas internas.Quanto à guerra em
solo ucraniano, descreve o telefonema com o Presidente ucraniano,
Volodymyr Zelensky, logo na noite da invasão russa em fevereiro de 2022,
e a sua ida à região do Donbass como momentos “inesquecíveis”,
esperando que no próximo ciclo institucional que agora arranca a União
consiga continuar a “tornar a Ucrânia mais forte porque isso também
torna a UE mais forte”.E alertou que, se
noutros países que aguardam a adesão à UE “houver um lugar vazio, alguém
preencherá o vazio e não é alguém que defenderá os mesmos valores e
interesses”.Antigo primeiro-ministro
belga, o político liberal Charles Michel, de 48 anos, preside ao
Conselho Europeu durante dois mandatos desde dezembro de 2019 e até 30
de novembro de 2024.Será sucedido no cargo pelo antigo primeiro-ministro português, António Costa, a partir de 01 de dezembro.