Presidente demissionário do INEM acusa ministério de negligência no processo dos helicópteros
18 de jul. de 2024, 10:32
— Lusa/AO Online
“Houve uma falha
gritante, eu diria negligente, daquilo que é o dever de superintendência
sobre o instituto público, porque nós, por numerosas ocasiões,
solicitamos, relativamente a esta matéria, indicações à tutela, que
nunca nos chegaram de modo a ajudar o instituto a resolver um problema”,
afirmou Luís Meira, que foi ouvido na Comissão de Saúde a pedido da
bancada do PS.O conselho diretivo INEM
presidido por Luís Meira apresentou em 01 de julho a sua demissão à
ministra da Saúde, alegando a “quebra de confiança na atual tutela”,
pedido que foi aceite por Ana Paula Martins.Nesse
dia, o INEM anunciou um novo contrato com o atual operador, por ajuste
direto, para garantir a continuidade do serviço dos quatro helicópteros
de emergências médica, dois médios a operar 24 horas por dia e dois
ligeiros a operar apenas no período diurno, à semelhança do que já vinha
acontecendo desde 01 de janeiro.Na
altura, o instituto explicou que, na sequência do concurso público para
esta operação lançado em janeiro, foram recebidas duas propostas, ambas
com valores superiores ao preço base, que se situava nos 12 milhões de
euros por ano.Também nessa ocasião, o
conselho diretivo alegou que, perante isso, apresentou ao ministério de
Ana Paula Martins “sucessivas e insistentes propostas” para uma nova
resolução do Conselho de Ministros com a verba adequada às condições do
mercado.Justificou ainda que, perante a
ausência de resposta por parte do Ministério da Saúde que permitisse a
abertura de um novo concurso público internacional, a única alternativa à
não adjudicação de um novo contrato por ajuste direto seria o país
deixar de contar com este serviço de transporte aéreo de emergência.Hoje
perante os deputados, Luís Meira salientou ter “demasiadas evidência
sobre esses pedidos” ao ministério, que foram formalizados por ofício e
por `mail´, relativamente à “necessidade de haver uma decisão da tutela
relativamente a este problema”.“O que
levou à demissão do conselho diretivo foi a perda irreversível da
confiança do conselho diretivo na tutela”, reiterou o presidente
demissionário, ao salientar que um dos motivos para estar à frente do
INEM “era haver confiança da tutela no conselho diretivo e,
reciprocamente, haver confiança do seu presidente na tutela”.Aos
deputados adiantou ainda que entregou à presidente da Comissão de Saúde
um dossier “com todas as evidências e todos os contactos” entre o INEM e
a tutela sobre esse processo e garantiu que, na sequência de reuniões
realizadas em 24 e 25 de junho, obteve “silêncio absoluto” da parte do
ministério.Referiu ainda que o conselho
diretivo ponderou apresentar a demissão antes de efetuar o ajuste
direto, mas não o fez, porque o “serviço pararia” e no dia 01 de julho
“os portugueses não teriam direito” ao transporte aéreo de emergência
médica.“Aquilo que fizemos foi assumir a
coragem e resolver o problema que o Governo não teve, neste caso, a
senhora ministra da Saúde não teve, para resolver esta questão.
Sentimo-nos perfeitamente desapoiados”, lamentou. Luís
Meira confirmou ainda aos deputados que o conselho diretivo a que
preside continua em funções, mas em gestão corrente desde 01 de julho.“Desde
essa altura, não temos qualquer indicação da tutela seja sobre o nosso
futuro imediato, nomeadamente quando iremos ser substituídos”, referiu o
responsável demissionário, ao adiantar também que não recebeu
indicações para a preparação do próximo orçamento do INEM.Numa
audição parlamentar em 10 de julho, a ministra da Saúde reconheceu que
as divergências com o Luís Meira tiveram como base o lançamento do
concurso público para a prestação de serviço de helicópteros de
emergência médica.Ana Paula Martins
adiantou que o ajuste direto realizado no início do ano estava feito
para seis meses e previa que, durante esse período, fosse aberto um novo
concurso público."Nunca impedimos o
conselho de administração do INEM - que tem autonomia - nem demos
qualquer orientação de não haver outro concurso. Tínhamos todos
consciência de que teríamos de encontrar solução, por um lado, através
de concurso internacional, eventualmente com um caderno de encargos
redefinido", afirmou.Na sequência da
demissão de Luís Meira, o Ministério da Saúde anunciou que o médico
Vítor Almeida foi escolhido para presidir ao INEM, mas acabou por não
aceitar o cargo dias depois. Perante isso, foi nomeado o militar Sérgio
Dias Janeiro.