Presidente da Turquia afirma estar entristecido com suspensão de vistos pelos EUA
9 de out. de 2017, 18:35
— Lusa/AO online
"É claro que, antes de
mais, esta decisão entristece-nos muito", declarou o chefe de Estado
turco, durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo
ucraniano, Petro Poroshenko, em Kiev. As relações diplomáticas
entre os Estados Unidos e a Turquia atravessam um momento de forte
tensão, após as autoridades turcas terem detido e acusado, na última
quarta-feira, um funcionário turco do consulado norte-americano de
Istambul de ter ligações ao clérigo Fethullah Gülen (ex-aliado do
Presidente turco e atualmente exilado em território norte-americano),
que o governo de Ancara responsabiliza pelo golpe de Estado fracassado
em julho de 2016. As autoridades turcas acusaram o funcionário consular do crime de espionagem. Em
reação às movimentações judiciais turcas, Washington anunciou, no
domingo, a suspensão temporária de emissão de vistos na Turquia, medida
que recebeu uma resposta pronta de Ancara, que decidiu cancelar
igualmente a emissão de vistos a cidadãos norte-americanos. "A
Turquia é um Estado de Direito. Não somos uma tribo, não somos um Estado
tribal", acrescentou Erdogan na capital ucraniana para explicar a
reação de Ancara à medida norte-americana. E frisou que "de forma
recíproca", a Turquia suspendeu a emissão de vistos a norte-americanos
"utilizando como base o mesmo texto" que foi publicado na rede social
Twitter pela embaixada dos Estados Unidos em Ancara. A nota
divulgada pela embaixada justificava que "os recentes desenvolvimentos
obrigaram o governo dos Estados Unidos a reavaliar o compromisso do
governo turco com a segurança das representações dos Estados Unidos e
respetivos funcionários". A Turquia exortou hoje Washington a
recuar com a decisão de suspender a emissão de vistos, mas a divulgação
(também hoje) da convocação para interrogatório de um segundo
funcionário do consulado de Istambul pelas autoridades turcas poderá
dificultar qualquer passo nesse sentido. Esta "guerra dos
vistos" entre Ancara e Washington surge após meses de uma crescente
tensão entre os dois países no seio da NATO, em parte por causa de
visões discordantes sobre a guerra na Síria e de vários processos
judiciais nos Estados Unidos que envolvem nomeadamente elementos da
segurança do Presidente Recep Tayyip Erdogan e um ex-ministro turco. Também
a agravar o mal-estar entre os dois países aliados está a exigência da
Turquia, até hoje sem sucesso, da extradição de Fethullah Gülen, que
está exilado nos Estados Unidos desde finais da década de 1990. Em
março passado, um funcionário turco do consulado norte-americano em
Adana (sul) foi detido e acusado de apoiar o Partido dos Trabalhadores
do Curdistão (PKK, separatistas curdos), uma organização classificada
como "terrorista" por Ancara, Washington e a União Europeia.