Presidente da República exige “tolerância zero” aos castigos corporais a crianças
1 de jun. de 2022, 17:40
— Lusa/AO Online
Numa mensagem em vídeo gravada
para a conferência “Nem Mais Uma Palmada – Pela eliminação dos castigos
corporais”, promovida pelo Instituto de Apoio à Criança, na Fundação
Champalimaud, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa associou-se ao
lançamento da estratégia para uma nova campanha nacional em defesa dos
direitos das crianças e da proteção da sua integridade física e
psicológica.“Há muito ainda por fazer.
Como é possível existirem determinados contextos em que ainda se tolera o
uso de castigos corporais infligidos às crianças? Como é possível em
2022?”, questionou o Presidente, sem deixar de elogiar o Instituto de
Apoio à Criança pelo convite “para a reflexão sobre uma realidade que é
punida por uma lei do Código Penal desde 2007”. Marcelo
Rebelo de Sousa salientou que “os castigos físicos sobre as crianças
são uma forma de violência intolerável em todos os planos e dimensões” e
defendeu que estes comportamentos violentos têm “consequências no
desenvolvimento infantil”, resumindo: “A realidade dos castigos
corporais nas crianças devia ser censurada”.A
mesma visão foi defendida pela presidente da Comissão Nacional de
Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ),
Rosário Farmhouse, que, ao lembrar a efeméride do Dia da Criança, pediu o
fim dos “maus tratos” sobre crianças e jovens – notando que “a
violência intrafamiliar aumentou muitíssimo durante a pandemia” de
covid-19 - e apelou à adoção de uma cultura de parentalidade positiva.“É
fundamental que tenhamos tolerância zero aos maus tratos. Não há
pedagogia através da violência. A palmada não é normal. A parentalidade
positiva e compreensiva é aquela que ensina e comunica os limites,
porque também são necessários para a proteção das crianças. Somos o que
nos dão: Se recebermos amor, é isso que vamos dar; se nos derem
palmadas, é isso que vamos fazer”, explicou.Por
outro lado, a Provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, preferiu
destacar o “caminho feliz” realizado nas últimas décadas em termos de
defesa dos direitos das crianças e que a comunidade portuguesa deve
sentir-se orgulhosa pelos avanços nas políticas públicas de proteção da
infância, quando comparados com as décadas de 60 ou 70 do século
passado, demasiado marcadas pela mortalidade infantil ou pelo trabalho
infantil.“Sou a atual titular de uma
instituição do Estado que, pela amplitude de funções que tem e pela
atipicidade de funções, nem sempre é muito conhecida e muito menos
compreendida. Se alguma razão há para que exista enquanto instituição
estatal, essa razão tem tudo que ver com instituições como o Instituto
de Apoio à Criança e iniciativas como aquela que hoje aqui ocorre”,
referiu a Provedora, continuando: “Este caminho em Portugal não tem
retrocesso”.A presidente do Instituto de
Apoio à Criança assinalou que a resolução de conflitos através de
castigos corporais em crianças e jovens tem também “reflexos negativos”
noutros domínios, como o ‘bullying’ e a violência doméstica. Dulce Rocha
- que não pôde estar presente e enviou um discurso que foi lido pela
tesoureira da organização, Matilde Sirgado – explicou ainda o rumo
estratégico para a nova campanha.“Numa
primeira fase, procurámos o apoio de três entidades: o Presidente da
República, a Provedora de Justiça e a presidente da CNPDPCJ. Numa
segunda fase, procuraremos apoio governamental e das autarquias para que
nos ajudem a transformar este panorama de alguma tolerância da
violência”, disse, concluindo: “O direito à não violência é estruturante
do Estado de Direito. Que este seja um crime que deixe definitivamente
de ficar impune. Não podemos ficar indiferentes”.