Presidente da Mesa do Chega/Açores demite-se e critica “nepotismo” interno
12 de ago. de 2021, 06:52
— Lusa/AO Online
No
documento, a que agência Lusa teve acesso, João Martins pede a
“demissão de funções” e o “cancelamento” da “militância do partido com
efeitos imediatos”.“Tenho
a plena convicção de que o senhor doutor André Ventura, ou alguém a seu
rogo, virá a público dizer que é mentira. Mas é verdade, existe mesmo
nepotismo no seio do partido Chega”, lê-se no documento.Na
missiva enviada ao presidente da Mesa do Conselho Nacional, Luís Filipe
Graça, João Martins critica a direção nacional do partido por permitir
que os “órgãos regionais fossem alvo de ataques por parte de militantes
tresloucados, que nunca foram devidamente admoestados pelas estruturas
nacionais”.O
até aqui presidente da Mesa do Chega nos Açores salienta ter comunicado
a “gravidade dos acontecimentos” aos órgãos nacionais do partido, “sem
que daí resultasse qualquer consequência”.A
14 de julho, o líder do Chega, André Ventura, anunciou a retirada de
confiança política ao presidente da direção regional nos Açores, Carlos
Furtado, que passou a deputado independente no parlamento açoriano.Ao
longo de vários meses foram públicas as divergências entre Carlos
Furtado e José Pacheco, os dois deputados eleitos pelo Chega nas
eleições regionais dos Açores, realizadas em outubro de 2020.Na
carta de demissão, João Martins disse ter sido “bem notória a total
nulidade” da direção nacional, que manteve o “caos interno” e passou um
“atestado de incompetência” à estrutura regional.João
Martins considera ainda “vergonhosa” a entrega das listas autárquicas
nos respetivos tribunais sem que tivessem sido “submetidas a voto de
aprovação” nos órgãos regionais.O
agora ex-dirigente do Chega revela que, “mediante estas desilusões”,
desistiu de ser o candidato do partido à Câmara da Ribeira Grande nas
próximas eleições autárquicas.“Senti
que estava a ser desrespeitado também aqui como cabeça de lista, por
parte do senhor doutor André Ventura, que num gesto infantilizado exigiu
a apresentação de candidaturas, um comportamento infantil, como um
menino mimado e birrento que faz um espalhafato exigindo aos pais um
brinquedo”, lê-se na carta.O
até aqui presidente da Mesa do Chega/Açores considera ainda “grave” a
retirada de confiança política a Carlos Furtado e salienta que existe
uma “grande coleção de faltas de respeito da direção nacional sobre a
direção regional”.“Ao
que foi dado a entender pelo outro deputado [José Pacheco], é-lhe
conferido pelas estruturas nacionais responsabilidades no processo
autárquico, desvinculadas da direção regional que nunca foi consultada
nem ouvida”, afirma.Martins
destaca que “ninguém da direção nacional se dirigiu à direção regional,
depois da retirada de confiança ao antigo presidente”.João
Martins considera uma “autêntica vergonha” André Ventura ter tido uma
reunião com o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, a
16 de julho, sem a presença de qualquer membro da direção regional.O
ex-dirigente do Chega refere que, da parte da direção nacional, “só se
observou o fabrico da imagem, que é já como que uma marca comercial […],
a marca André Ventura”.“Nada
mais importa a não ser promover a marca, mesmo que isto custe a
destruição e destituir as pessoas sérias e honestas”, conclui.O
Chega é um dos partidos que assinou um acordo de incidência parlamentar
com as forças que integram o Governo dos Açores (PSD/ CDS-PP/PPM).O
partido elegeu dois deputados, mas apenas um - José Pacheco -
representa o Chega, após Carlos Furtado ter perdido a confiança política
do líder do Chega, mantendo-se como deputado independente na Assembleia
Legislativa Regional.A Lusa contactou a direção nacional do partido mas não obteve resposta até ao momento.