Presidente da EDA alerta para riscos da liberalização do mercado elétrico nos Açores
14 de mar. de 2023, 06:44
— Lusa/AO Online
“Na mera
hipótese de se avançar para uma liberalização do mercado elétrico
regional, é legítimo perguntar se estamos disponíveis para aceitar
preços de eletricidade diferentes em cada ilha, uma vez que os custos de
produção são muito diferentes de ilha para ilha”, questionou o
presidente do conselho de administração da EDA, Nuno Pimentel.O
responsável pela empresa, detida em 50,1% pela Região Autónoma dos
Açores, falava, em Angra do Heroísmo, na inauguração do novo sistema de
armazenamento de energia da ilha Terceira.As
câmaras de comércio e a Federação Agrícola dos Açores contestaram o
aumento do preço das tarifas da eletricidade de baixa tensão especial e
média tensão, aplicadas em janeiro de 2023, na região, alegando que
podiam rondar entre 40 a 60%.O presidente
da EDA reconheceu hoje as “enormes dificuldades” que os aumentos,
“decretados pela entidade reguladora [dos serviços energéticos]”, estão a
provocar nos “consumidores afetados”, mas disse que é preciso ter
“noção” da realidade e da dimensão dos Açores.Nuno
Pimentel salientou que os Açores têm “nove mercados isolados”, porque
não é “técnica e economicamente viável” transportar eletricidade por
cabos submarinos na região.Segundo o
presidente da EDA, o arquipélago ficou excluído do mercado liberalizado
europeu “por decisão da Comissão Europeia”, por se integrar nas
“micro-redes isoladas”.“A maior ilha da
região, São Miguel, teve um consumo anual de energia de 424 gigawatts,
em 2022. Também em 2022, o consumo total dos Açores foi de 768
gigawatts, ou seja, estamos muito distantes dos 3.000 gigawatts,
dimensão considerada mínima para um mercado liberalizado eficiente”,
apontou.Nuno Pimentel sublinhou que os
custos de produção de eletricidade nos Açores “sempre foram e são muito
superiores aos do continente”.“Antes da
aplicação do princípio de convergência tarifária, as tarifas de
eletricidade dos Açores eram cerca de 39% superiores às do continente”,
apontou.O “custo real” do sistema elétrico
dos Açores é, segundo o presidente da EDA, “muito superior às tarifas
que são cobradas aos consumidores na região”.“Em
2023, este sobrecusto vai ascender a mais de 117 milhões de euros, que
serão suportados pelo sistema elétrico nacional”, referiu.Quanto
às reivindicações de redução do preço da eletricidade, devido ao
aumento da penetração de energias renováveis, o responsável da elétrica
açoriana frisou que essas energias “não se conseguem a custo zero”.“São
necessários investimentos significativos e as tecnologias de produção e
armazenamento utilizam metais raros, que são escassos e na maioria
também localizados em países com limitações geopolíticas equivalentes
aos combustíveis fósseis”, vincou.