Presidente da CEP diz que foi importante “conhecer a realidade” dos abusos e “pedir perdão”
12 de fev. de 2024, 09:43
— Lusa/AO Online
José
Ornelas, em declarações escritas à agência Lusa, considera que “o
relatório da Comissão Independente foi fundamental, porque (…) despertou
para um sofrimento escondido que abalou a Igreja e a sociedade, pela
crueza dos relatos que trouxe à luz do dia”.Para
o também bispo de Leiria-Fátima, “no meio da dor profunda que tem sido
este processo de enfrentar, com clareza, estas situações de sofrimento”,
tem estado presente que “o bem das vítimas é a (…) prioridade e que é
possível melhorar, passo a passo, o modo de agir, escutar, reparar e
acompanhar”.A 13 de fevereiro de 2023, a
então Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças
na Igreja Católica Portuguesa deu a conhecer o relatório da sua ação,
cujos resultados apontaram, por extrapolação, para um número mínimo de
vítimas da ordem das 4.815 desde 1950.“Mais
do que os números, porque um só caso já seria pesaroso, motivou-nos o
desejo de ir ao encontro das vítimas destes abusos, procurando, na
medida do possível, ajudá-las a curar e superar as suas feridas e a
evitar que tais situações voltem a acontecer”, assegura o prelado, para
quem, a partir do conhecimento da realidade “é possível trilhar novos
caminhos, procurando implementar uma cultura de proteção e cuidado das
crianças, jovens e adultos vulneráveis no âmbito eclesial e contribuir
para o diálogo sobre este tema na sociedade em geral”.José
Ornelas alerta que “o drama dos abusos sexuais de crianças é
transversal aos diversos setores da sociedade” e que a Igreja quer dar
“contributo e ser parte ativa na erradicação destas trágicas situações”.Confrontado
com as críticas quanto a uma certa inação da hierarquia da Igreja
quanto a eventuais reparações às vítimas, o presidente da CEP sublinha
que “a reparação das vítimas não consiste, apenas, em compensações
financeiras”.A Igreja Católica em Portugal
garante que “todas as pessoas vítimas de abusos sexuais de menores, no
contexto da Igreja, que se dirijam ao Grupo VITA ou às Comissões
Diocesanas de Proteção de Menores terão o apoio necessário à sua
reparação e recuperação. Ninguém ficará privado desse apoio”, frisa o
bispo, acrescentando que “tal está já a acontecer garantindo os meios
necessários, nomeadamente, para o acesso a consultas e tratamentos”.“Desde
o início se disse que não excluíamos alguma forma de reparação
financeira em ordem à recuperação e ao futuro, mas que tal não poderia
ter um caráter simplesmente jurídico, pois, na maioria dos casos,
faltariam bases válidas para a sua concretização. Neste momento, estamos
a trabalhar para que, o mais brevemente possível, possamos dispor de
critérios e propostas para a atribuição de uma reparação moral, em
termos financeiros, às vítimas que o solicitarem”, assegura, ressalvando
que ainda não há qualquer prazo definido para que isso aconteça. Questionado
sobre como ficou a confiança na Igreja por parte da sociedade
portuguesa depois de conhecido o relatório da comissão liderada pelo
pedopsiquiatra Pedro Strecht, José Ornelas diz não ter dados “que
permitam fazer uma leitura” sobre essa situação.“O
que sempre nos importou, em primeiro lugar, foi a atenção concreta às
pessoas vítimas de abusos e à confiança delas em si mesmas (…). Se por
um lado podemos ter a perceção que a credibilidade da Igreja Católica
foi afetada pelo impacto do estudo, por outro lado também acreditamos
que o caminho que temos vindo a percorrer, quer nas Dioceses, quer nos
Institutos de Vida Consagrada, é fruto de um compromisso sério da nossa
parte para garantir a ‘tolerância zero’ em matéria de abusos nos nossos
espaços”, responde o presidente da Conferência Episcopal.José
Ornelas adianta que “os diversos organismos que atuam na área da
proteção de menores e adultos vulneráveis no seio da Igreja em Portugal
têm feito um trabalho de proximidade e elevada competência técnica, com
clareza e transparência”, acreditando que “isso não deixa ninguém
indiferente”.O prelado destaca, por outro
lado, a ação das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos
Vulneráveis, da Equipa de Coordenação Nacional e do Grupo VITA, que “têm
sido a força motriz da mudança”.“São
estes os organismos que, na Igreja, têm desenvolvido uma ação
articulada, quer no acolhimento, acompanhamento e reparação das pessoas
que sofreram, quer na formação e capacitação dos agentes pastorais, para
que a atuação na prevenção possa ser eficaz e sejamos capazes de
erradicar os abusos sobre menores nos ambientes eclesiais”, acrescenta.José
Ornelas comenta, ainda, a ação que o Grupo VITA – órgão criado após a
cessação de funções da Comissão Independente – está a ter junto de
vários departamentos da Igreja, apostando na formação e na
sensibilização para eventuais casos de abuso.“Além
do acolhimento às vítimas, estava também previsto que o Grupo VITA
pudesse atuar na área da prevenção e capacitação dos agentes eclesiais.
Este é um trabalho extremamente importante, porque o Grupo VITA tem um
caráter temporário. O objetivo é que, progressivamente, as ações sejam
assumidas pelas estruturas permanentes da Igreja já presentes no
terreno”, explica o bispo de Leiria-Fátima.O
presidente da CEP diz que tem acompanhado o trabalho desenvolvido e que
o mesmo lhe dá esperança nos campos do “apoio a quem sofreu, como na
prevenção de novos abusos”.