Presidente da Cáritas Portuguesa preocupada com “crise arrastada”
12 de jul. de 2022, 13:05
— Lusa/AO Online
“É muito preocupante.
Não é só uma crise pontual, é uma crise arrastada que ainda não se
percebe quando vai terminar”, afirmou Rita Valadas, no decorrer de uma
visita à Cáritas Diocesana de Vila Real.E é
preocupante, apontou, a vários níveis, desde o aumento de casos de
pobreza, o agravamento de situações que já estão abaixo do limiar de
pobreza e nas maiores dificuldades das próprias instituições para dar
resposta devido, também, ao aumento generalizado dos preços,
exemplificando com o aumento do preço das refeições.Questionada sobre se estas dificuldades podem inviabilizar a capacidade de resposta, Rita Valadas disse esperar "que não". “Sempre
havemos de conseguir tirar alguma solução da cartola, temos conseguido.
A nossa atividade depende em grande parte de donativos e, até agora, as
crises que temos vivido não têm sido crises de solidariedade”,
salientou. A responsável disse preocupar-se com as questões para “além das estatísticas”.“Eu
sei que é muito importante haver números, nós temos alguma pressão nos
números, mas pior do que isso é a severidade das situações de pobreza”,
afirmou.Segundo apontou, o país já terá
passado para “os 20% de pessoas abaixo do nível de risco de pobreza",
mas, referiu, “na verdade há 40 anos que se vagueia entre percentagens”,
nomeadamente entre os 16% e os 20%. Depois dos sinais de retoma efetiva em 2019, seguiu-se a pandemia de covid-19 em 2020 e, agora, em 2022, uma guerra na Europa.Com a pandemia algumas famílias perderam os rendimentos e, agora, verifica-se um aumento do custo de vida.“Esse
aumento tem sido brutal e naturalmente as famílias não aguentam (…) Há
famílias que não aguentam e vão engrossar este número de situações de
pobreza”, apontou.Rita Valadas referiu que “algumas pessoas começam a comprometer a sua qualidade alimentar porque já não têm capacidade”.Relativamente
às instituições, nomeadamente as que fornecem refeições, a responsável
disse que estas têm visto os “seus custos aumentados brutalmente”. “Temos
situações muito difíceis de instabilidade financeira de gestão das
instituições por via do aumento do custo de vida na atividade”, referiu.Em
Vila Real, Rita Valadas visitou a Quinta da Tapada, em Bisalhães, onde
estão localizados os serviços técnicos da Cáritas e outras valências
como a comunidade terapêutica e equipa de intervenção direta, os
apartamentos de reinserção sócia, o albergue social e o armazém, o
projeto + Social_E7G_Bairro da Telheira e o serviço de atendimento
social.“É para conhecer os problemas e os
tesouros. As Cáritas são todas diferentes entre si e desenvolvem a sua
ação de acordo com as necessidades de cada território”, frisou.O
presidente da Cáritas de Vila Real, Henrique Oliveira, disse que
durante o período da pandemia houve, a nível deste distrito, um
acréscimo dos pedidos de ajuda, que praticamente duplicaram em relação a
2019.“As coisas, entretanto, ficaram mais
calmas, estão a estabilizar. Por exemplo no programa de apoio alimentar
já houve redução dos alimentos que são distribuídos às pessoas”,
referiu.No entanto, acrescentou, têm surgido “alguns pedidos de ajuda para pagamento de faturas de água e de renda”. Na
comunidade terapêutica é prestado apoio a 28 pessoas com dependência de
álcool ou substâncias ilícitas e, nos apartamentos de reinserção, estão
oito pessoas.