Presidente da Associação de Municípios quer regionalização para modernizar o Estado
28 de nov. de 2019, 08:34
— João Fonseca e Sérgio Silva Soares/Lusa
Em entrevista à agência Lusa, o líder da
Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) afirma que a
descentralização de competências está a ser um passo importante e um
processo que “tem de ser continuado”, mas que não chega e, que,
“passados mais de 20 anos do referendo que não validou a regionalização,
é tempo de ultrapassar o tabu” e de promover essa reforma no Estado.A
regionalização, sustenta, deve avançar “sem precipitações, com a força
tranquila de quem se dedica à causa pública e se interessa por criar
respostas, condições de resposta eficaz àquilo que é essencial para as
comunidades”.O processo de 1998 “claudicou
exatamente quando se lançou a questão das partilhas, da demarcação de
extremas, dos mapas [das regiões]”, recorda Manuel Machado, que também é
presidente da Câmara de Coimbra, considerando que “isso inquinou o
processo” e subverteu a discussão.“Vivido e
ultrapassado esse tempo, respeitando a metodologia referendária”, estão
“criadas as condições para colocar na agenda política um debate
profundo, descomplexado, leal e aberto, que leve a retomar o processo
das regiões políticas e administrativas, para serem criadas com todos os
cuidados e com as atribuições que devem ter”, afirma.“É
a oportunidade para a modernização do Estado”, frisa o presidente da
ANMP, que entende que “a descentralização é uma etapa” e que “a
regionalização consolida, de facto, aquilo que é necessário empreender
em democracia”.Para Manuel Machado, “a
organização do território” não deverá “andar longe das NUT [nomenclatura
das unidades territoriais para fins estatísticos] II que hoje existem”
no território continental – Norte, Centro, Área Metropolitana de Lisboa,
Alentejo e Algarve –, com a introdução de “ajustamentos, que devem ser
consensualizados o mais amplamente possível”.A
regionalização interessa a “todos aqueles que se preocupam com o que,
até agora, tem sido insuficiente como resposta do Estado central às
necessidades dos territórios, das comunidades”.A
criação das regiões políticas e administrativas, sustenta o presidente
da ANMP, é “fundamental para ser definido com clareza quem é responsável
por quê, quem tem os meios para fazer o quê, quem responde perante os
cidadãos pelas políticas públicas”.A
regionalização não “aumentará a despesa pública”, ela “já lá está”, os
quadros, os técnicos e outros recursos já estão nos organismos
desconcentrados do Estado, mas, para além de mais, “não é despesa
pública democraticamente sufragada”.“Sendo
a regionalização seguida da descentralização”, surge a “oportunidade de
aumentar a eficácia do Estado central, regional e local, com a
definição clara das atribuições e competências de cada um dos níveis de
governação, com os meios financeiros e recursos adequados para o seu
exercício e devidamente sufragados em regime democrático”, sintetiza
Manuel Machado.Portugal, “apesar dos
impulsos que têm sido dados”, é “um Estado centralista, o que agrava a
despesa pública colossalmente, como diria alguém”.As
“entropias” geradas pelo centralismo “são tantas e tais que afetam”,
por exemplo, “a eficiente aplicação dos fundos europeus” e “a eficiente e
atempada resposta” às atividades económicas.“Esta
oportunidade é única. Se as coisas correrem bem, como se espera,
ponderadamente, sem precipitações, sem atropelos, sem radicalismos,
damos um passo importantíssimo na aproximação do Estado aos cidadãos”,
acredita o presidente da ANMP.Sobre a
descentralização, Manuel Machado diz que o processo, já “em velocidade
de cruzeiro”, foi além das “expectativas” e foi caracterizado pela
“confiança e lealdade negocial”.Este “é um
processo que está em condições de ser continuado” e “sempre
monitorizado”, para continuar a “correr bem”. Mas também precisa de
eventuais “aperfeiçoamentos”, que “a aplicação prática” possa
recomendar, e, naturalmente, de “componentes como o Orçamento do Estado,
os fundos europeus” ou o financiamento de grandes intervenções,
designadamente em algumas instalações escolares, adverte.Sob
o lema “Descentralizar, Regionalizar, Melhorar Portugal”, o XXIV
congresso da ANMP realiza-se na sexta-feira e no sábado, no Teatro
Municipal de Vila Real.Durante o encontro,
cuja abertura será presidida pelo Presidente da Republica, Marcelo
Rebelo de Sousa, e o encerramento pelo primeiro-ministro, António Costa,
mais de 800 autarcas debaterão questões relacionadas com a organização
do Estado, o modelo de desenvolvimento do País e o financiamento local.