Presidente avisa que não pode haver crises no seu último ano de mandato
Marcelo/4 anos
22 de jan. de 2020, 12:02
— Lusa/AO Online
Em 2020, ano em que serão votados
dois Orçamentos do Estado, um em fevereiro e o outro previsivelmente
entre novembro e dezembro, o Presidente da República tem o poder de
dissolução do parlamento limitado, só o podendo exercer entre abril e
setembro.Nos termos da Constituição, a
Assembleia da República não pode ser dissolvida nos seis meses
posteriores à sua eleição, que foi em 06 de outubro de 2019, nem no
último semestre do mandato do Presidente da República, que cessa funções
em 09 de março de 2021."É óbvio que tem
de haver estabilidade e não há sequer condições para estar a pensar em
crises ", avisou Marcelo Rebelo de Sousa, há dez dias, reforçando a
mensagem de que neste intervalo "não é possível haver crise, porque não é
possível haver dissolução e eleições, como poderia acontecer noutras
circunstâncias, sem aprovação de Orçamento".Eleito
à primeira volta nas eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2016
com 52% dos votos, o antigo presidente do PSD conviveu nos seus
primeiros três anos e meio de mandato com um Governo minoritário do PS
suportado por acordos inéditos à esquerda no parlamento, manifestou-se
desde o início empenhado na estabilidade e viu a legislatura chegar até
ao fim.Teve, nas suas palavras, uma
"coabitação especial" com o anterior executivo chefiado por António
Costa - com maior proximidade no início, num período de desconfiança
interna e externa face àquela solução governativa, e maior afastamento
aquando dos incêndios de 2017 - e disse no final desse ciclo que iria
ter "verdadeiramente saudades" daquela composição da Assembleia da
República.Para já, nesta nova legislatura,
em que o PS, apesar da votação reforçada, tem um novo Governo
minoritário, o Orçamento do Estado para 2020 passou na generalidade
apenas com votos a favor dos socialistas e com a abstenção de BE, PCP,
PSD-Madeira, PAN, PEV e Livre. O quadro
político é diferente, porque agora o Governo não é suportado por
quaisquer acordos escritos, uma condição que o próprio Presidente da
República considerou desnecessária e que o PCP rejeitava, tendo António
Costa optado por não privilegiar nenhum dos parceiros à esquerda.O
chefe de Estado declarou "não estar preocupado relativamente à votação
final global" deste Orçamento do Estado, mas realçou que este "é um ano
de dois orçamentos", que "vão ligar-se um ao outro". E tem apelado a que
seja a mesma maioria que compunha a chamada "geringonça" a aprovar o de
2020, desaconselhando "soluções pontuais". O
anúncio da sua decisão sobre uma recandidatura ou não nas presidenciais
de janeiro do próximo ano poderá coincidir precisamente com o momento
da entrega do Orçamento do Estado para 2021 no parlamento, em meados de
outubro.Marcelo Rebelo de Sousa remeteu
inicialmente o fim desse tabu para o verão deste ano, mas entretanto
adiou essa comunicação para outubro.Quando
marcar a data das presidenciais, o que tem de ser feito com uma
antecedência mínima de 60 dias, prometeu que estará claro se é ou não
candidato.Há quatro anos, o ex-comentador
político quis ser o único rosto da sua campanha, assumiu-se como
protagonista de uma "candidatura independente" e procurou distanciar-se
de PSD e CDS-PP, que o apoiaram através de recomendações de voto.Apesar
disso, em todos os distritos teve a presença de autarcas e dirigentes
locais, sobretudo sociais-democratas, e o então líder parlamentar do
PSD, Luís Montenegro, esteve em destaque numa conversa de café, em
Espinho, onde os dois trocaram elogios, cercados de câmaras e
microfones. Defensor de "um só mandato
presidencial, mais longo", ainda como candidato presidencial, num
discurso na Voz do Operário, em Lisboa, no dia 24 de outubro de 2015,
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu vir a ser o primeiro Presidente da
República eleito em democracia a não se recandidatar a um segundo
mandato de cinco anos.Desde então, abordou
o tema em sucessivas ocasiões, mas manteve o tabu, apontando a sua
saúde e o sentido de dever como fatores determinantes a ponderar.Após
as eleições europeias de maio de 2019, apontou "o equilíbrio de forças"
que resultasse das legislativas como mais um fator a ter em conta, na
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa,
exprimindo preocupação com uma possível crise na direita.No
que respeita à sua saúde, Marcelo Rebelo de Sousa foi operado de
urgência a uma hérnia umbilical, no dia 28 de dezembro de 2018, o que o
obrigou a cancelar toda a sua agenda até ao final desse ano e a abrandar
o ritmo nas semanas seguintes.No dia 30
de outubro deste ano, foi submetido a um cateterismo cardíaco, desta vez
de forma programada, e à saída do hospital considerou que a melhoria do
seu estado clínico constituía agora "um fator positivo na ponderação"
sobre uma recandidatura.Para o
secretário-geral do PS e primeiro-ministro, esse é um cenário
praticamente certo. "Eu diria, se me fosse permitido ser por dez
segundos analista político, que há 99% de possibilidades de ele se
candidatar. Além do mais, seria incompreensível para 80% dos portugueses
que o apoiam verem-se frustrados por não o terem", declarou, em julho.Excluindo-se
de candidato presidencial nas eleições de 2021 ou em quaisquer outras,
António Costa tem reservado para mais tarde a posição do PS na próxima
corrida a Belém, embora referindo que o seu partido "sempre teve como
tradição apoiar candidatos e não propor candidatos".