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Presidenciais: Gouveia e Melo revela que lhe ofereceram chefia das Forças Armadas para desistir da candidatura

Henrique Gouveia e Melo revela que lhe foi dada a oportunidade de atingir o topo da carreira militar, no final do seu mandato como chefe do Estado-Maior da Armada, com o objetivo de travar a sua candidatura a Presidente da República.


Autor: Lusa

Esta convicção é manifestada no livro "Henrique Gouveia e Melo - Um Retrato Biográfico", da autoria do jornalista e diretor do Polígrafo, Gustavo Sampaio, editado pela "Manuscrito" (Editorial Presença), que irá para as livrarias na quarta-feira.

Segundo o relato do autor, além da recondução como chefe do Estado-Maior da Armada, foi também proposto ao almirante o cargo de chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, sempre com o objetivo de travar a sua candidatura a Belém.

"Acha que o pretendiam colocar nesse posto para o afastar da corrida ao Palácio de Belém?", pergunta Gustavo Sampaio, ao que Gouveia e Melo responde: "Tenho quase a certeza absoluta disso. Por isso é que eu achei que as razões não eram as melhores e, portanto, abandonei logo essa ideia".

O almirante que chefiou a Armada e foi responsável pelo processo de vacinação da covid-19 não poupa nas palavras para justificar a recusa da sugestão que lhe terá sido feita.

"Quem me conhece sabe que, quando me empurram, eu me torno mais rijo [...] É uma característica da minha personalidade. Portanto, quanto mais me queriam empurrar para um determinado sítio - e por motivos errados - de uma luta intestina política e não porque quisessem verdadeiramente que eu mudasse as Forças Armadas ou as ajudasse a progredir -, isso incentivou-me ainda mais a tomar outra decisão", esclarece, embora sem indicar a quem se está referir.

Henrique Gouveia e Melo afirma que, agora, pretende contribuir para "a melhoria e reforço do sistema político" porque "este sistema político tem coisas apodrecidas".

No livro, de 206 páginas, o autor cita uma notícia do semanário Expresso de 27 de setembro de 2024, intitulada "Presidente aposta na recondução do almirante à frente da Armada", em que se lia que Marcelo Rebelo de Sousa estaria disposto a "fazer tudo o que estiver ao seu alcance" para evitar que o militar fosse candidato.

Para Marcelo, a candidatura de Gouveia e Melo "tem, simultaneamente, potencial para ser bem sucedida como para depois, caso o seja de facto, dar representação ao mais alto nível no Estado a formas de populismo autoritário contra as quais o Presidente da República tem produzido sucessivos alertas".

"Na visão de Marcelo, uma candidatura do militar - que o Chega já disse que poderia apoiar - teria, além do mais, o condão de dividir fatalmente o eleitorado à direita do PS, podendo constituir um tiro de morte nas hipóteses do seu candidato preferido, Luís Marques Mendes".

No livro, Gouveia e Melo aborda a sua atividade na Marinha, a responsabilidade que teve durante a pandemia com o processo de vacinação, a relação com a família ou o caso de insubordinação com 13 militares do navio Mondego que se recusaram a cumprir uma missão de acompanhamento de um barco russo, mas também sobre a sua educação religiosa.

"Eu acredito em Deus e tenho fé, mas fui-me afastando da prática religiosa, não sou um beato da igreja", confessa, acrescentando: Fui-me desiludindo com a Igreja enquanto instituição, não enquanto pessoas".

Gouveia e Melo diz que sempre achou que a Igreja "devia ser mais dinâmica" e que se tornou "muito ritual".

"Todos os problemas que a Igreja teve, ultimamente, também me desiludiram quanto à organização. Apesar de perceber que se calhar a maioria não é assim. Mas a Igreja fechou-se em vez de...Só com o Papa Francisco é que se abriu verdadeiramente e tentou expurgar por dentro esse tipo de problemas. Mas o facto de se protegerem [a si próprios]... Mostraram de alguma forma um movimento corporativo que não beneficiou a Igreja. Mas a Igreja é um conjunto de homens, é uma organização humana. Uma organização humana está propensa a falhas, erros e a testar a fé da organização humana", conclui.