Presidência da UE pode favorecer provável candidatura de Macron
30 de dez. de 2021, 09:50
— Lusa/AO Online
"O Presidente Emmanuel
Macron é extremamente europeu e vai tentar ter resultados rapidamente
(…) para mostrar aos candidatos que são eurocéticos o que a Europa traz à
França e a necessidade de ter uma Europa que funciona",
afirmou Jean-Pierre Jouyet, antigo secretário de Estado dos Assuntos
Europeus, em entrevista à agência Lusa.Coube
a Jean-Pierre Jouyet levar a cabo as negociações para a
última presidência francesa do Conselho da UE, que decorreu no segundo
semestre de 2008, e o político considera que a referida coincidência é
algo que pressiona Macron, mas que pode até favorecê-lo junto dos
eleitores franceses, caso consiga levar a cabo as prioridades que
delineou. Apesar do Presidente Macron ainda não ter apresentado a sua candidatura à reeleição, poucos duvidam que não o faça.Além
da reforma do Espaço Schengen (de livre circulação na Europa), que
inclui um acompanhamento político contínuo da política migratória da
Europa, e do desenvolvimento da defesa europeia, as outras prioridades
da presidência francesa da UE incluem a regulação dos mercados digitais,
a atratividade industrial e o relançamento da economia. Prevista
está também uma cimeira entre a União Africana e a União Europeia, a 17
e 18 de fevereiro, em Bruxelas, que, segundo o Presidente francês, vai
propor um “novo acordo” entre os dois continentes."O
objetivo da nossa presidência é passar de uma Europa de cooperação no
interior das nossas fronteiras a uma Europa poderosa exteriormente, no
Mundo, completamente soberana, livre nas suas escolhas e dona do seu
destino", disse Emmanuel Macron, ao apresentar, numa conferência de
imprensa no dia 09 de dezembro, as prioridades da presidência francesa
do Conselho da UE, entre janeiro e junho de 2022."(…)
Schengen e defesa (…) serão os grandes pontos (…) tanto do Presidente,
como da presidência”, o interesse “é que temos uma palavra a dizer sobre
os desafios europeus e mostrar que eles são importantes para a França",
explicou.As
eleições presidenciais francesas decorrem em abril de 2022 em duas
voltas e o Governo francês já delineou os grandes momentos da
presidência até março, incluindo um momento que o antigo secretário de
Estado considera "forte" que é o Conselho Europeu, de 24 e 25 de março. "Em
2022, tentamos que a Europa seja menos dependente das grandes
potências, a prioridade é a Europa afirmar-se ela própria como uma
grande potência", resumiu Jean-Pierre Jouyet sobre as prioridades da
presidência francesa da União.Para
o europeu convicto, que foi secretário-geral do Eliseu sob a
presidência de François Hollande entre 2014 e 2016 e terá tido um papel
decisivo na ascensão política de Emmanuel Macron, as escolhas das
prioridades foram "acertadas" e a França, devido ao seu peso, tem
possibilidades de as alcançar."Há
um peso diferente quando é uma presidência francesa, mas hoje isso
conta menos do que há 20 ou 30 anos. Claro que ainda conta porque é um
país fundador da União Europeia, é um dos maiores países da União
Europeia (…), algo ainda mais importante após o ‘Brexit’, e é um país
com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas", assinalou.Jean-Pierre
Jouyet apontou a capacidade e as redes diplomáticas como pontos fortes
da França para conseguir cumprir o programa a que se propôs e sublinhou a
importância de marcar a agenda, especialmente com Schengen, atraindo a
atenção dos outros Estados-membros para este problema."É
um bom momento para falar de Schengen”, considerou, apontando o que “se
passa nas fronteiras de Leste, com a fronteira entre a Polónia e a
Bielorrússia, o que se passa em Chipre com a Turquia e também a
situação em Espanha ou em Calais” para defender: “é preciso resolver
esta questão".Dos
tempos como um dos principais negociadores da presidência francesa de
2008 e depois como um dos principais rostos em Bruxelas no último
semestre desse ano, Jean-Pierre Jouyet guarda uma "experiência
apaixonante"."É
uma experiência apaixonante, precisamos conhecer todos os países
europeus e o que mais me marcou foi a crise da Geórgia [com a Rússia],
mas também a crise financeira e todas a consequências que isso teve em
termos de falência de bancos. Era preciso tentar que os bancos europeus
continuassem de pé", lembrou.No
final da presidência francesa do Conselho da União Europeia de
2008, Jean-Pierre Jouyet foi nomeado pelo então Presidente Nicolas
Sarkozy como líder da Autoridade dos Mercados Financeiros francesa,
tendo implementado diferentes lei para proteger os bancos franceses e os
seus depósitos durante a crise. Em
2017, Jean-Pierre Jouyet foi embaixador de França no Reino Unido e
entre 2019 e 2020, data em que se reformou, foi embaixador de França
junto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE). A
presidência do Conselho é exercida em regime rotativo pelos
Estados-membros da UE por períodos de seis meses. A da França é
antecedida pela da Eslovénia e seguida pela da República Checa.