Presépio das Furnas assinala 50 anos de tradição “única”
24 de dez. de 2025, 19:00
— Filipe Torres
As Furnas celebram 50 anos de uma das mais “emblemáticas tradições natalícias dos Açores”. O Presépio das Caldeiras continua a atrair milhares de visitantes todos os anos. O Presépio das Caldeiras das Furnas, considerado o “mais célebre e único” do arquipélago, permanece patente até 11 de janeiro, assinalando 50 anos de história, criatividade e envolvimento comunitário.Organizado pela Câmara Municipal da Povoação, em parceria com a Junta de Freguesia das Furnas, o presépio volta a apresentar centenas de figuras, iluminação em LED e diversas inovações cénicas, mantendo viva uma tradição que atrai, todos os anos, milhares de visitantes à freguesia.Meio século de história e identidade culturalSegundo a Câmara Municipal da Povoação, o Presépio das Caldeiras teve origem em 1975, por iniciativa de um grupo de jovens das Furnas, ligados à Juventude Democrática Furnense, entre os quais se encontravam Gualberto Nicolau, Luís Humberto Carreiro, Paulo Fernando Melo, José Manuel Pereira Costa, António Cabral da Costa, José da Costa Casado Júnior e José Francisco Almeida. Inicialmente financiado com recursos próprios, o projeto viria a contar, ao longo dos anos, com o apoio da antiga Casa da Cultura, da Junta de Freguesia das Furnas e, mais tarde, da Câmara Municipal da Povoação, entidade que assegura atualmente o seu financiamento.Segundo a tradição oral, o presépio começou com a simples recriação da Sagrada Família, instalada numa gruta natural, entre fumarolas e cursos de água quente. Com o passar dos anos, cresceu em dimensão e complexidade, incorporando novos episódios bíblicos, figuras e uma iluminação cada vez mais elaborada, num cenário em permanente mutação.Há novidades todos os anos no Presépio das FurnasDesde 2013, a responsabilidade pela construção e coordenação do presépio cabe a Fernando Costa, que sublinha o peso simbólico e emocional deste marco histórico. “É sempre um orgulho fazer este presépio que faz 50 anos de história. Muitas pessoas fizeram parte dele e eu faço parte há 12 anos”, afirmou. Para o responsável, manter viva esta tradição é essencial: “Não deixar cair uma tradição que é forte nas Furnas e que já faz parte da nossa cultura. Traz milhares e milhares de visitantes e isso é uma grande satisfação para quem faz”.Fernando Costa explica que a preparação começa, regra geral, três semanas antes, podendo estender-se por mais tempo quando existem mudanças significativas. “Se quisermos modificar, criar figuras novas, pintar cenários diferentes, é preciso começar mais cedo. No terreno, são sempre cerca de três semanas de trabalho diário”, detalhou. Além disso, realçou que, no próximo ano, começarão as preparações dois ou três meses antes da inauguração, para tornar o presépio “ainda mais apelativo”.A aposta na inovação é uma das marcas do seu trabalho. “Quando peguei no presépio, ele já estava há alguns anos sempre igual. Achei que devíamos fazer alterações para o tornar mais apelativo. As pessoas gostam de vir e ver mudanças, perguntar onde está a gruta este ano”, explicou, acrescentando que essa dinâmica “cria debate e mantém o entusiasmo”.O responsável destaca ainda o papel fundamental do trabalho em equipa. “Ninguém constrói um império sozinho. Tenho colegas da Câmara, pessoas do Terra Nostra, uma equipa que já trabalha comigo há vários anos. Sem eles, isto não era possível”, frisou, deixando também um apelo ao futuro: “Espero que o Presépio das Furnas nunca deixe de existir”.Investimento reforça iluminação e segurançaPara o vice-presidente da Câmara Municipal da Povoação, Sérgio Pacheco, esta efeméride ultrapassa largamente os limites da freguesia. “O Presépio das Furnas já não diz respeito exclusivamente às Furnas. É um marco a nível da ilha. Na época natalícia, é quase obrigatório quem visita São Miguel vir ver o presépio”, afirmou.O autarca recorda que a iniciativa começou de forma privada, mas foi progressivamente assumida pelas entidades públicas. “A Junta de Freguesia e a Câmara abraçaram esta ideia, com cedência de mão de obra, materiais e investimento financeiro”, explicou.Este ano, esse investimento foi particularmente significativo na área da iluminação. “O sistema era mais rudimentar. Implementámos novos materiais, porque aquela zona tem características muito específicas, com humidade e temperaturas elevadas”, referiu.Embora não tenha indicado o valor exato aplicado apenas no presépio, Sérgio Pacheco revelou que o município investiu 70 mil euros em iluminação natalícia no concelho, incluindo a modernização da instalação elétrica do Presépio das Furnas.Impacto cultural, turístico e económicoSegundo o vice-presidente, o presépio tem um impacto claro na dinamização cultural e económica do concelho. “Dá um significado muito importante às nossas tradições. Ter um presépio com esta qualidade faz com que as pessoas queiram visitar o concelho da Povoação e isso contribui fortemente para a economia local”, afirmou.Sérgio Pacheco destacou ainda o roteiro de presépios existente no concelho, desde Água Retorta até às Furnas, bem como iniciativas recentes como o Mercadinho de Natal, promovido em parceria com a Queijaria Furnas.Um exemplo para as gerações mais jovensA encerrar, o autarca deixou uma mensagem dirigida à juventude. “Estamos a falar de uma tradição com 50 anos que nasceu da iniciativa de um conjunto de jovens das Furnas. É um exemplo do que esperamos da nossa juventude: capacidade de iniciativa, de acreditar e de criar coisas grandes”, afirmou. “Talvez aqueles jovens nunca tenham imaginado a importância que o presépio teria hoje, não só para as Furnas, mas para todo o concelho e para os Açores”.O Presépio das Caldeiras das Furnas permanecerá iluminado continuamente na noite de Consoada, na véspera de Ano Novo e no Dia de Ano Novo. Nos restantes dias, poderá ser visitado entre as 18h00 e a 01h00.