Preparador físico de ginasta candidata-se a exoesqueleto para tentar voltar a andar
23 de jan. de 2020, 10:33
— Lusa/AO Online
Tiago
Sousa era atleta de alta competição de tumbling, no Lisboa Ginásio
Clube (LGC), quando, em 12 de janeiro de 2005, com 21 anos, sofreu um
acidente num treino e contraiu uma lesão grave que o remeteu para uma
cadeira de rodas."Estava a fazer um treino
e [num mortal] parei no ar, caí com a testa e o corpo foi todo para a
frente, fazendo a luxação das [vértebras cervicais] C5 e C6. Percebi que
era muito grave, porque chegavam pessoas ao pé de mim e eu gritava
porque não me conseguia levantar. Quando cheguei ao hospital, percebi
que era algo realmente grave, porque não mexia nada do pescoço para
baixo", começa por recordar, em entrevista à agência Lusa.O
acidente conduziu-o a um longo processo de tratamentos, fisioterapia e,
ao fim de dois anos, abriu-lhe um novo rumo, quando saiu do Centro de
Medicina e Reabilitação de Alcoitão e assistiu a um treino de tumbling,
altura em que percebeu que era ali que queria estar. De outra forma, por
outro meio. O ex-aluno do curso
Técnico-Profissional de Desporto tirou uma especialização como instrutor
de fitness, fez um curso de micro expressões e linguagem corporal e
tornou-se preparador físico de vários atletas, colaborando ainda na
preparação de atletas do Projeto Olímpico de trampolins e da seleção
nacional.Hoje, com 35 anos, o desafio de
Tiago Sousa é outro. Conquistou alguma atividade motora nos membros
inferiores e consequentemente o acesso aos testes com o exoesqueleto HAL
("Hybrid Assistive Limb"), que vão decorrer em Jacksonville, nos EUA."Este
é um grande objetivo ter conseguido ir para o Cyberdyne HAL. De 14 a 24
de fevereiro, vou fazer os testes para ver se consigo ficar os três
meses. Em 2016, tentei entrar, só que ainda não tinha os pré-requisitos
de atividade muscular para ingressar nesse programa. De há dois, três
anos para cá comecei a treinar e a ser o bio-atleta de alta competição
para conseguir alcançar este grande objetivo que é ingressar neste
programa", explica.Caso seja bem-sucedido
nos testes, Tiago Sousa, que, entretanto, já recuperou grande parte da
mobilidade dos membros superiores, usará diariamente, durante 45 minutos
a uma hora, o exoesqueleto HAL. "A
diferença entre este exoesqueleto e os outros é que, para este
exoesqueleto HAL funcionar, tem de haver atividade muscular, nem que
seja o mínimo. Porquê? Que vai fazer este exoesqueleto? Vai potenciar
essa mensagem. Ou seja, se eu quiser por o exoesqueleto a trabalhar, e
não tiver nenhuma atividade muscular, ele não vai mexer", esclarece. A expectativa de Tiago Sousa não é, contudo, "sair de lá a andar", mas dar um passo rumo à sua total recuperação."A
minha ambição é a de sempre, a de criar metas para alcançar o grande
objetivo. Não estar tão focado nesse objetivo de sair da cadeira de
rodas e andar, que vai ser o objetivo para o resto da minha vida ou até
acontecer, mas ficar mais focado no processo e em todas as conquistas
que vou conseguindo dia a dia", frisa.Mas
para conseguir realizar o programa, o preparador físico desenvolveu uma
campanha de angariação de fundos para tentar reunir 10 mil euros para os
testes e 30 mil euros para os três meses da Cyberdyne HAL.Mediante
este desafio, Beatriz Martins não hesitou em juntar-se à causa de "um
profissional incrível", fazendo um apelo nas redes sociais e
disponibilizando-se para as iniciativas que estão a ser desenvolvidas,
como aulas de fitness, zumba ou ‘workshops'."Tocou-me
um bocadinho mais no coração, é meu amigo, é meu treinador e, por ser
uma pessoa tão próxima, sei o quanto ele quer isto, o quanto trabalhou
para isto e acho que é altura de se focar um bocadinho mais nele
próprio", defende a ginasta, assegurando que "nunca foi muito estranho" o
seu preparador "estar numa cadeira de rodas e nunca houve um dia em que
achasse que as limitações do Tiago estavam a limitar" o seu treino.Em
vésperas da partida, Tiago Sousa mostra-se extremamente confiante
naquela que chama a qualificação para os seus Jogos Olímpicos."Sinto-me
tão forte fisicamente e mentalmente que, mesmo que não alcance [a
qualificação], sei que vai aparecer alguma coisa e eu hei de conseguir
alcançar. Mas o objetivo é ir lá e, com toda a minha força, e de todas
as pessoas que estão à minha volta, conseguir fazer o programa e viver
sozinho", conclui Tiago Sousa.