Preocupado com discurso de ódio, Governo da República quer avaliar legislação
18 de jun. de 2024, 10:47
— Paulo Agostinho, da Lusa
“Os
dados oficiais mostram que houve, no ano passado, um aumento de cerca
de 38% deste tipo de crimes” e é “muito importante atuar na prevenção e
no combate. Em segundo lugar, apostar na sensibilização da sociedade e,
em terceiro lugar, apoiar as vítimas destes crimes”, afirmou a
governante à Lusa, por ocasião do Dia Internacional de Combate ao
Discurso de Ódio, que se assinala hoje.O
Conselho de Europa fez recentemente “um conjunto de recomendações aos
seus 46 estados-membros e há várias recomendações que devem ser
ponderadas naturalmente pelo Estado português”, em particular “garantir
um apoio às vítimas deste crime, apostando também na formação dos órgãos
de polícia criminal”, explicou Balseiro Lopes.No
entanto, para debater este tema “é necessário o envolvimento da
Assembleia da República”, disse, recordando que “houve alterações
recentes já este ano ao Código Penal no seu artigo 240, número 2 e é
também importante avaliar se a legislação vai ao encontro das
necessidades”.Sobre a situação política em
Portugal, com o crescimento eleitoral de movimentos populistas à
semelhança do que acontece um pouco no resto da Europa, Balseiro Lopes
estabelece fronteiras.“Qualquer Governo
deve estar comprometido com a defesa intransigente dos direitos humanos,
independentemente de ser centro-esquerda ou centro-direita” e “devemos
ser implacáveis no combate a esse discurso que afeta especialmente
minorias, mas nem só de minorias, como a comunidade LGBTI, mas também
podemos falar das mulheres que são especialmente vulneráveis”, afirmou.Por
outro lado, “é fundamental sensibilizar a sociedade e sermos
implacáveis em relação a este tipo de discurso”, disse, considerando que
se trata de uma discussão de “natureza política, com grande impacto
social, mas é também uma discussão eminentemente técnica” e “além do
Código Penal, há outros regimes que atualmente estão em vigor e que,
eventualmente, também devem ser revisitados”.Em
particular, a ministra mostra-se preocupada com as crianças e jovens,
“especialmente vulneráveis relativamente a este tipo de crimes no
ciberespaço”.Nesse sentido, o Governo está
a avaliar “se faz ou não faz sentido criar uma linha [telefónica]
específica, como, por exemplo, a Polónia tem e que no ano passado
registou mais de 50 mil participações, com uma equipa multidisciplinar
direcionada a crianças e jovens que sejam vítimas, por exemplo, de
‘bullying’ e de ‘cyberbullying’”.É preciso
“apostar na sensibilização”, com “um olhar muito atento e muito
direcionado às crianças e jovens que são utilizadores nativos da
Internet, mas também são alvos muito fáceis, muito acessíveis deste tipo
de condutas que nalguns casos configuram mesmo ilícitos criminais”,
disse.Mas também “é importante perceber
que, quando falamos, por exemplo, do ciberespaço, não há fronteiras” e
há a “circunstância de muitos destes crimes poderem ser praticados
noutros países e as vítimas estarem situadas no território português”.Por isso, Portugal está em articulação com os estados parceiros para tentar atuar em relação às plataformas de conteúdos.Contudo,
Balseiro Lopes insistiu que a criminalização excessiva do discurso de
ódio pode criar outros problemas. Na Internet, “é importante
compatibilizar vários direitos, porque nós também não queremos
reinstituir a censura”, mas “também é fundamental nós conseguirmos
garantir a proteção dos direitos das pessoas na era digital, tendo
também em conta que nenhum Estado será capaz de isoladamente a aplicar o
que quer que seja, que não seja articulação com outros Estados”.