Prémio Bial distingue Miguel Castelo-Branco por investigação de 15 anos sobre autismo
8 de fev. de 2023, 09:44
— Lusa/AO Online
A
distinção ao docente da Universidade de Coimbra, onde coordena o Centro
de Imagem Biomédica e Investigação Translacional, é concedida pela
Fundação Bial, formada pela farmacêutica portuguesa com o mesmo nome e
pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.A
organização atribuiu, ainda, duas menções honrosas, no montante de 10
mil euros cada, à neurocirurgiã Cláudia Faria (Hospital de Santa Maria
de Lisboa), pelo estudo de tratamentos personalizados para tumores
cerebrais, e ao cardiologista Albertino Damasceno (Hospital Central de
Maputo), pela coordenação de um trabalho ao longo de 25 anos sobre a
hipertensão arterial na população moçambicana.Pai
de um jovem autista, Miguel Castelo-Branco tem testado, a par de
medicamentos, o uso de jogos de realidade virtual para "melhorar as
competências sociais e de regulação emocional" de crianças e jovens
autistas, depois de ter identificado "marcadores neurobiológicos" do
autismo (que variam de pessoa para pessoa)."Alguns
ensaios clínicos mostraram a melhora do humor, da ansiedade e da
capacidade de reconhecer emoções faciais, em particular o medo",
assinalou à Lusa.O autismo define-se como
uma perturbação do neurodesenvolvimento que se caracteriza por
dificuldade na interação e comunicação (verbal e/ou não verbal), bem
como por um comportamento e pensamento restrito, repetitivo e
estereotipado.Estudos de imagem do cérebro
revelaram, segundo Miguel Castelo-Branco, "características estruturais
do cérebro ou padrões diferentes de atividade do mesmo" que "estão na
base de um perfil de comportamento diferente, em que a comunicação
verbal, as emoções e a capacidade de interagir socialmente estão
modificadas". Contudo, estas
características, próprias de perturbações como o autismo, "são muito
diferentes" entre pessoas, obrigando a "ajustar individualmente" as
terapêuticas. O uso de jogos imersivos
pode ser acompanhado pelo "registo simultâneo de biosinais de atividade
do cérebro, ritmo cardíaco", permitindo ter "melhor ideia do estado
cognitivo" das crianças e jovens e "dar 'feedback' desses sinais",
explicou o investigador.O júri do Prémio
Bial de Medicina Clínica 2022, que distinguiu "Os desafios da
neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de
investigação no autismo", foi presidido pelo patologista Manuel Sobrinho
Simões.Citado em comunicado da Bial,
Sobrinho Simões destacou o "percurso de vida" de Miguel Castelo-Branco
"dedicado à investigação, alicerçado na [sua] história pessoal", que
"contribuiu substancialmente para a compreensão da dualidade
saúde/doença, permitindo o desenvolvimento de tratamentos personalizados
de forma a melhorar competências sociais e de regulação emocional no
autismo".Miguel Castelo-Branco recebeu o
Grande Prémio Bial de Medicina 2008, no montante de 150 mil euros, pela
investigação sobre a deteção das doenças de Alzheimer, Parkinson e
glaucoma em fases muito precoces.Criada em
1994, a Fundação Bial tem "a missão de incentivar o estudo científico
do ser humano, tanto do ponto de vista físico como espiritual".O
Prémio Bial de Medicina Clínica 2022 é hoje entregue na Aula Magna da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, numa cerimónia com a
intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.