Tendo como
orador convidado o secretário regional da Educação e Cultura,
Avelino Menezes, associaram-se à referida homenagem amigos, colegas,
antigos discípulos e familiares de Maria Simas.
Através de
testemunhos e mensagens lidas, todos foram unânimes em reconhecer,
de forma emotiva, o papel decisivo da professora a nível da formação
cultural de várias gerações de alunos, bem como a sua prestação
no desenvolvimento do ensino profissionalizante no Faial.
O historiador
Artur Teodoro de Matos, ex-aluno da homenageada e um dos promotores
do evento, dirigindo a palavra ao presidente da Câmara Municipal da
Horta, exprimiu o desejo de que “o nome de Maria Simas possa ser
perpetuado em qualquer lugar ou instituição da Horta, para consolo
dos presentes e memória dos futuros”.
De entre os
muitos ex-alunos de Maria Simas, estiveram presentes na sessão Rosa
Goulart, professora universitária e Delfina Porto, autora de um
livro sobre a história da Escola do Magistério Primário da Horta,
único no género a nível dos Açores.
Henrique
Barreiros, presidente da direção da Associação dos Antigos Alunos
do Liceu da Horta, lançou o repto a Avelino Menezes para que seja
feita a história da Educação dos Açores.
Referência
indelével e figura incontornável, Maria Simas frequentou a Escola
do Magistério Primário da Horta até 1950. Exerceu a atividade
docente do primeiro ciclo nas freguesias de Angústias, Pedro Miguel,
Feteira, Praia do Almoxarife e Matriz, espraiando competência,
amizade e afabilidade.
Mais tarde
lecionou, na referida Escola do Magistério e durante 20 anos, as
disciplinas de Didáctica Especial, Legislação e Administração
Escolar. Em 1978, assumiu as funções de diretora daquele
estabelecimento de ensino até ao seu encerramento em 1989.
Durante anos
lutou pela continuação da formação de professores da Horta,
tornando-se responsável pelo Centro Integrado de Formação de
Professores (CIFOP), que lhe permitiu negociar a extensão do ensino
da Universidade Aberta à cidade da Horta.
Ao longo da sua
vida recebeu várias homenagens e condecorações, tendo-lhe sido
imposta, em 2013, a Insígnia Autonómica de Dedicação.
Num programa
que mantive durante vários anos na RTP/Açores, intitulado
“Conversas do Triângulo” (mais tarde “Conversas Açorianas”)
tive a oportunidade de entrevistar a professora Maria Simas que
deu-me um excelente testemunho da sua vida docente em princípio de
carreira, em plena ditadura salazarista.
Era o tempo da
política educativa regida pela Constituição da República de 1933.
Um tempo muito difícil para quem ministrava o ensino primário e
para quem fazia da sua profissão uma verdadeira missão: salas de
aula sem as mínimas condições de salubridade, higiene e
funcionalidade pedagógica, e com pouquíssimos recursos didáticos;
50 alunos numa mesma sala repartidos por quatro classes; o professor
não podia residir a mais de 5 km do local de trabalho e, se
apresentasse um aproveitamento escolar inferior a 70% não
justificável, era-lhe atribuído a classificação de “deficiente”.
Esse ano não contaria para a diuturnidade (que era de 5 anos) e, ao
segundo “deficiente” sem razão plausível, seria a expulsão da
profissão.
Esta tremenda
pressão que se abatia sobre o professor primário explica a
“pedagogia da reguada” de que a minha geração foi vítima.
Por
conseguinte, o professor primário era “pau para toda a obra” e,
apesar das dificuldades, não lhe faltava o espírito de bem servir
as populações escolares e as famílias.
Nesse tempo, o
docente não auferia ordenado nas férias nem tinha direito a
qualquer tipo de subsídio. E se a vida docente era difícil para o
homem, bem pior era o cenário da professora primária. Por exemplo:
ela só poderia casar mediante autorização do Ministério da
Educação; e para acrescentar o apelido do marido ao seu nome, ela
tinha que pagar 400 escudos, uma exorbitância para a época. E tem
mais: o marido da professora não podia auferir um ordenado inferior
ao dela e teria que ter “bom comportamento moral e civil”.
Se ela quisesse
viajar para fora do país, era obrigatório a apresentação de uma
autorização escrita quer da parte do diretor escolar, quer da parte
do esposo. Pior: ela só tinha direito a 15 dias de licença de parto
e, em serviço, era obrigada a ser comedida e recatada na aparência:
não podia usar 'make up' e estava proibida de pintar os lábios. E
se fosse mãe solteira era expulsa da profissão.
Os
tempos mudaram e para melhor. Mas nunca será de mais homenagearmos
os nossos velhos mestres.