Preços, horários e distância afastam adeptos dos estádios da I Liga
27 de mai. de 2024, 10:38
— Lusa/AO Online
O artigo “Porque estão os
estádios vazios em Portugal?”, publicado na Soccer & Society em
fevereiro, é “uma radiografia feita pelos adeptos” das condições dos
estádios do futebol profissional no masculino em Portugal, mais
concretamente na I Liga, publicado por Ângela Monteiro, em trabalho de
mestrado, e Paulo Reis Mourão.Entre as
principais conclusões, pode ler-se no trabalho, está o peso na decisão
do adepto do preço dos bilhetes, os “horários a que as partidas são
realizadas, e a distância das viagens de ida e volta dos estádios”, bem
como “as quotas de sócio e as vantagens que os clubes oferecem, datadas
para os dias de hoje”.O valor da quota de
sócio, que fica “em termos relativos mais caro em Portugal do que em
muitos outros campeonatos”, dificulta a adesão, não só nos campeonatos
profissionais como abaixo disso, nota o especialista Paulo Reis Mourão,
em entrevista à Lusa.“Temos, de facto,
quotas caras, face ao rendimento médio do português, como também temos
bilhetes caros face ao rendimento médio”, alerta o investigador.Segundo
Paulo Reis Mourão, este facto, bem como a distância em termos de
receitas dos clubes excetuando transferências dos clubes portugueses
para o resto da Europa, mostra “um grande desequilíbrio do futebol
profissional a nível europeu”, um desequilíbrio “depois reproduzido
internamente”.“O trabalho em si permitiu
verificar isso, uma ‘décalage’ nas quotas e o valor alto dos bilhetes,
isto face ao rendimento médio no país. Mostra que, quando temos um
estádio cheio em Portugal, esses adeptos fizeram um esforço maior
perante o rendimento nacional do que se tivessem remunerações alemãs a
ver um jogo alemão”, analisa.Os horários,
que são valorizados na vertente da transmissão televisiva, fazem com que
a estratégia se delineie “sem pensar no adepto que tem família, que
trabalha no dia seguinte”, o que é “somado à distância, com os adeptos a
fazer dezenas ou centenas de quilómetros para ver um jogo”, o que
comporta custos e gasto de tempo.“Perguntávamos
aos respondentes o que gostariam de ter nos jogos para complementar ou
tornar o preço menos caro e referiam a possibilidade de ter refeições
nos estádios, oferecidas, o parqueamento assegurado, confortável e
seguro, mas também os descontos em marcas ou produtos ao longo da semana
a partir do bilhete pago”, elenca Paulo Reis Mourão, como sugestões.O
investigador explica que a radiografia da situação permite “refletir em
novas formas de negócio que os clubes podem gerar, de forma a tornar o
produto como é o jogo de futebol profissional mais interessante para o
adepto do século XXI”.Esta questão leva a
uma expectativa, legítima segundo os investigadores, de que a filiação
ou associação entre a pessoa e uma agremiação desportiva “lhe
proporcione ganhos de vária ordem, como descontos, ‘vouchers’, confortos
durante o jogo para si e a família”.“O
adepto, para lá do bilhete, o custo primário, gasta em média mais 15 a
20 euros noutras despesas associadas. O adepto não está disposto a pagar
muito mais. O adepto português já se sente exausto em termos de
capacidade de despesa quando vai a um estádio de futebol”, aponta Paulo
Reis Mourão.Olhando para a frente, há
“algumas pistas” que saltam do artigo, a começar pela necessidade de
Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Liga Portuguesa de Futebol
Profissional (LPFP) “olharem para modelos de negócio, que estimulem
junto dos clubes, que possibilitem uma oferta alargada” ao adepto.“O
adepto, no século XXI, tem exigências diferente do do século XX.
Valoriza poder perceber que o clube o ajuda com alguns gastos primários,
nomeadamente a alimentação ou o merchandising, que o adepto não tem de
ficar com essa despesa sob o seu ónus”, explica o investigador.Segundo
o docente universitário, a ligação entre clubes “e a economia
envolvente” e os descontos em rede, mas também a comunicação mais
eficiente das suas parcerias, são aspetos a trabalhar.