Praia da Vitória chega a acordo com proprietários de terrenos do Bairro de Santa Rita
20 de set. de 2018, 19:55
— Lusa/AO Online
“A Câmara
Municipal da Praia da Vitória e os proprietários chegaram a um
entendimento e a partir daqui a câmara municipal iniciará o processo
administrativo e financeiro, contando com a solidariedade regional e
nacional, para a resolução definitiva do problema”, adiantou o
presidente do município açoriano. Tibério
Dinis falava numa conferência de imprensa conjunta com a secretária
regional da Solidariedade Social dos Açores, Andreia Cardoso, na
Assembleia Legislativa da Região, na cidade da Horta. Em
causa está um bairro construído na década de 1950, em terrenos
alugados, para acolher militares norte-americanos colocados na base das
Lajes, numa altura em que o parque habitacional da ilha Terceira tinha
uma capacidade limitada. Na
década de 1990, as casas foram vendidas a portugueses, mas os terrenos
nunca chegaram a ser comprados e o diferendo entre moradores e
proprietários tem-se arrastado há anos nos tribunais. Desde
2003, que a maioria dos moradores deixou de pagar rendas, segundo
dizem, por recomendação da câmara municipal, o que motivou vários
despejos. O
primeiro caso de despejo ocorreu há três anos e recentemente somaram-se
outros 13, mas continuam lá a viver mais de 80 famílias. A
autarquia vai adquirir os terrenos e “todos os direitos associados”,
exceto os “já transitados em julgado”, o que significa que só os
moradores já despejados terão de pagar as rendas em atraso. Tibério
Dinis disse ter iniciado a 03 de julho, “com a devida descrição e sem a
atenção mediática que muitas vezes é perturbadora do encontro de
soluções”, negociações com o advogado dos proprietários dos terrenos,
tendo chegado a acordo na tarde de quarta-feira. “Este
acordo é histórico. Coloca fim a uma querela de 20 anos e a um problema
de ordenamento do território no concelho da Praia da Vitória”,
salientou. O
valor de aquisição acordado foi de quatro milhões de euros, sendo pago
entre março de 2019 e março de 2022, e tanto os proprietários como a
autarquia comprometeram-se a suspender ações judiciais e de despejo que
decorriam em tribunal. Para
o autarca, o prazo de “quatro anos” para o pagamento do montante é
“fundamental” para que o município consiga a operacionalização do ponto
de vista administrativo e financeiro, e para que as famílias consigam
meios para adquirir os respetivos lotes. Segundo
Tibério Dinis, com este acordo “não haverá início a mais processos de
despejo” e as famílias já despejadas “vão regressar às habitações”. O
autarca, que esta tarde se reunirá com os moradores, disse que será
agora definido “o modelo e o método de aquisição por parte dos moradores
dos respetivos lotes”, esperando que o processo esteja fechado “nos
próximos seis meses”. O
município fará agora um “levantamento aprofundado e detalhado” das
condições socioeconómicas das famílias que residem em Santa Rita, para
apurar quantas não terão condições de recorrem à banca para adquirir os
lotes. Nesses casos, as famílias deverão contar com um apoio do Governo Regional e do Governo da República. “Sabemos
que no meio de 100 agregados familiares, há famílias que não têm os
recursos e as condições de recorrer à banca e fazer a aquisição. Nestes
casos, haverá maior intervenção pública”, adiantou o autarca,
ressalvando, no entanto, que a urbanização tem “uma componente social
muito heterogénea” e que não é “uma situação clássica de bairro social”. Em
junho, numa audição na Comissão de Política Geral da Assembleia
Legislativa dos Açores, Tibério Dinis chegou a admitir demolir as
habitações se os moradores fossem todos despejados e não se chegasse a
acordo para a aquisição dos terrenos. Os
proprietários reivindicavam inicialmente 6,5 milhões, baixando depois
para 3,5 milhões de euros, mas a autarquia alegava que os terrenos
estavam avaliados em 1,5 milhões de euros. Segundo
o autarca, esse valor tinha por base uma expropriação dos terrenos, mas
“havia dúvidas jurídicas” sobre a possibilidade de se avançar por essa
via.