PR diz que “excelência” das Forças Armadas não está em causa
8 de nov. de 2021, 18:34
— Lusa/AO Online
“Em
boa hora as Forças Armadas, logo que tiveram conhecimento da denúncia,
que foi no final de 2019, procederam à investigação imediatamente,
envolvendo a Polícia Judiciária Militar, depois alargou-se à Polícia
Judiciária, naturalmente, pelas implicações mais vastas do que o domínio
nomeadamente das Forças Armadas”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa,
questionado pela Lusa à margem de uma visita à Cidade Velha, Em Cabo
Verde.“E esse trabalho está em curso para
se apurar o que é que aconteceu e para se tomar as medidas exemplares
que devam ser tomadas. Quer dizer que foram as Forças Armadas as
primeiras a perceberem que era preciso assumir essas responsabilidades. E
isso só as prestigia, só aumenta o prestígio internacional que têm e
que é reconhecido por toda a gente”, acrescentou.Segundo
o Presidente da República, esse reconhecimento existe para com as
forças nacionais destacadas na República Centro-Africana (RCA), mas
também “nas que estão destacadas um pouco por todo o mundo”.“Tendo-se
a noção exata de que, como em todas as sociedades, há casos isolados
que devem ser punidas se for caso disso, mas a generalidade é um exemplo
daquilo que é a qualidade, mais do que qualidade a excelência das
nossas Forças Armadas”, disse ainda o chefe de Estado.Alguns
militares portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter
sido utilizados como "correios no tráfego de diamantes, ouro e
estupefacientes", revelou hoje o Estado-Maior-General das Forças
Armadas, adiantando que o caso foi reportado em 2019.Em
comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou
que "o que está em causa de momento é a possibilidade de alguns
militares que participaram nas FND [Força Nacional Destacada], na RCA,
terem sido utilizados como correios no tráfego de diamantes, ouro e
estupefacientes" e que "estes produtos foram alegadamente transportados
nas aeronaves de regresso das FND a território nacional".Vários
órgãos de comunicação social noticiaram hoje que a Polícia Judiciária
estava a fazer buscas no Regimento de Comandos, e noutros cerca de 100
locais, por suspeitas de tráfico de diamantes e ouro em missões
militares noutros países, como na República Centro-Africana (RCA).De
acordo com a nota do EMGFA, "em dezembro de 2019 foi reportado ao
Comandante da 6ª Força Nacional Destacada (FND), na República Centro
Africana (MINUSCA), o eventual envolvimento de militares portugueses no
tráfico de diamantes"."O comandante da FND
relatou prontamente ao EMGFA a situação, tendo esta sido de imediato
denunciada à Polícia Judiciária Militar (PJM) para investigação. A PJM
fez a respetiva denúncia ao Ministério Público que nomeou como entidade
responsável pela investigação a Polícia Judiciária", explicou.Além
da denúncia imediata, lê-se ainda na nota, o EMGFA "mandou reforçar os
procedimentos de controlo e verificação à chegada dos militares das FND e
respetivas cargas".De acordo com o EMGFA,
"os inquéritos militares e respetivas consequências estão pendentes das
investigações em curso, com o cuidado de não interferir neste processo,
ainda em segredo de justiça"."Uma vez
esclarecidas as responsabilidades, as Forças Armadas tomarão as devidas
medidas sendo absolutamente intransigentes com desvios aos valores e
ética militar. As Forças Armadas repudiam totalmente estes
comportamentos contrários aos valores da Instituição Militar",
sublinham.Fonte ligada ao processo
confirmou à Lusa que a operação está a decorrer em vários locais do
país, entre os quais o regimento dos Comandos na Carregueira, Sintra, e
que conta com cerca de 100 mandados de busca e detenção. Em causa estão
suspeitas de tráfico de droga, ouro, diamantes e branqueamento de
capitais.Segundo a TVI, que avançou com a
notícia da operação, os visados são militares, comandos e ex-comandos,
militares da GNR e agentes da PSP que terão usado missões portuguesas da
ONU, nomeadamente na República Centro Africana (RDA) para cometerem os
crimes.Atualmente, de acordo com dados
disponibilizados pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas na sua
página oficial, estão empenhados na RCA 180 militares portugueses no
âmbito da MINUSCA e 45 meios. Também na RCA, mas no âmbito da missão de
treino da União Europeia (EUTM-RCA), estão atualmente empenhados 25
militares.A MINUSCA tem como objetivos
"apoiar a comunidade internacional na reforma do setor de segurança do
Estado, contribuindo para a segurança e estabilização" da República
Centro-Africana, informa ainda o EMGFA.A
RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do
ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que
suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação
anti-Balaka.Desde então, o território
centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes
grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da
RCA a abandonarem as suas casas.