Posição externa de PR dos EUA fragilizou-se devido a problemas internos
19 de jan. de 2022, 15:42
— Lusa/AO Online
“Quando,
pouco depois de chegar à Casa Branca, Biden disse a célebre frase
‘America is back’ ['A América está de volta'], ele esqueceu-se de que
não há regresso para o lugar no passado ocupado pelos Estados Unidos”,
disse Bruce Stokes, investigador convidado sénior do German Marshall
Fund.Numa conferência virtual sobre os
sucessos, insucessos e incertezas no primeiro ano de mandato de Biden -
organizada pelo German Marshall Fund, centrada nas relações
transatlânticas e a que a agência Lusa assistiu – Stokes defendeu que a
posição do Presidente norte-americano na geopolítica está muito
condicionada pela sua incapacidade em se afirmar internamente.Neste
ponto, Stokes foi acompanhado de perto por Ines Pohl -
correspondente-chefe em Washington da estação radiofónica alemã Deutsche
Welle e a outra palestrante na conferência – que também salientou as
dificuldades que Biden sentirá no relacionamento externo, por causa da
pesada herança que recebeu das mãos do seu antecessor, o republicano
Donald Trump.“Ele chegou à Casa Branca
dias depois do ataque ao Capitólio por apoiantes de Trump, no meio de
uma pandemia cujo combate não fora programado, com guerras que teimavam
em não terminar”, explicou Pohl, para dizer que entende bem por que
razão, 12 meses depois de ter chegado à Casa Branca, Biden goza de fraca
popularidade.“A saída para estes
problemas é difícil”, defendeu a jornalista alemã a trabalhar em
Washington, recordando que tem acompanhado os recentes comícios de
Donald Trump e que sente que o líder republicano continua a ter uma
forte base de apoio, muito crítica da atuação do atual Presidente.Bruce
Stokes sublinhou que Biden surgiu, aos olhos da comunidade
internacional, em particular da Europa, com a vantagem de suceder a
Trump, marcando rapidamente a diferença e conquistando a simpatia de
muitos aliados.Contudo, acrescentou
Stokes, esse prestígio aumentou as expectativas sobre o desempenho de
Biden na cena mundial, que parecem agora cada vez mais longe de ser
cumpridas, sobretudo porque os aliados começam a desconfiar de que ele
nem sequer consegue ter sucesso dentro de casa.“Talvez
lhe suceda como a Obama, que, quando chegou, criou muitas expectativas.
Mas, mesmo quando ficou aquém do que era esperado, os aliados europeus
continuaram a gostar dele”, concluiu o investigador do German Marshall
Fund.Para os dois analistas, Biden
depara-se com muitos cenários de incerteza nas relações transatlânticas,
enfrentando, no imediato, a situação na Ucrânia e as ameaças colocadas
pelo Presidente russo, Vladimir Putin.“Os EUA estão a olhar muito para a Ásia. E isso nem sempre agrada aos europeus”, argumentou Bruce Stokes.“Mas
para lidar de forma eficaz com a China, ou também com a Rússia, Biden
vai precisar da Europa”, acrescentou Ines Pohl, que salientou a
desconfiança que Biden continua a alimentar internamente, mesmo junto da
sua base de apoio democrata.“Parece-me
muito provável que os democratas percam as duas câmaras do Congresso,
nas próximas eleições intercalares”, defendeu a jornalista, para quem
Biden nunca conseguiu unir o seu próprio partido, muito menos fazer as
pontes com os republicanos.Outra das incertezas no relacionamento entre os EUA e a Europa prende-se com as atitudes de Londres e de Berlim.Na
fase final da conferência, os dois analistas reconheceram que a atitude
do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, é uma incógnita para
Biden, que deixou de contar com Londres como porta de contacto
privilegiado com a União Europeia (UE), depois do ‘Brexit’.“Basta
ver como Biden nem sequer se aproxima do tema quente do acordo
comercial entre Londres e Bruxelas, para se perceber que há ali um
embaraço”, defendeu Stokes.Para Ines Pohl,
outra incógnita no relacionamento de Biden com a Europa é a atitude do
novo Governo alemão, que parece ter dificuldade em clarificar como se
vai situar, por exemplo, face à Rússia de Putin, em particular numa
questão que separa Berlim de Washington: a ativação do gasoduto Nord
Stream 2.“A diplomacia alemã está a falar
com voz grossa contra Putin, no que diz respeito à Ucrânia. E isso
agrada a Biden. Mas falta saber como será a relação da Alemanha com a
Rússia, se a dependência energética se mantiver”, concluiu Pohl.