Portugueses nos EUA mobilizam-se contra projeto de lei que extinguiria dupla cidadania
11 de dez. de 2025, 15:55
— Lusa
Num alerta enviado à comunidade
portuguesa a viver nos Estados Unidos, o Conselho de Liderança
Luso-Americano (PALCUS, sigla em inglês) apelou à ação, pedindo aos
"membros e amigos" da comunidade luso-americana que entrem em contacto
com os senadores e representantes no Congresso e expressem a sua
rejeição a este projeto."Escrevemos para
chamar a atenção, com urgência, para um projeto de lei recém-apresentado
no Senado que, se aprovado, afetaria de forma significativa e adversa
milhares de luso-americanos e outros cidadãos com dupla nacionalidade
nos Estados Unidos", indicou a PALCUS, a única organização que
representa portugueses e lusodescendentes a nível nacional nos Estados
Unidos.Em causa está um projeto de lei
proposto no Senado, intitulado "Lei da Cidadania Exclusiva de 2025",
que proibiria qualquer pessoa de possuir simultaneamente a cidadania
norte-americana e a cidadania de outro país.A
proposta é da autoria do senador Bernie Moreno, um republicano de
Ohio, que nasceu na Colômbia, mas renunciou à cidadania colombiana. De
acordo com o projeto, indivíduos que atualmente possuem dupla cidadania
seriam obrigados a escolher entre a cidadania norte-americana e a
cidadania estrangeira dentro de um ano.O não cumprimento dessa exigência seria tida como uma renúncia voluntária da cidadania norte-americana.Além
disso, qualquer pessoa que consiga outra cidadania após a promulgação
da lei perderá automaticamente a cidadania norte-americana.Esta
não é a primeira vez que um legislador tenta revogar as leis de dupla
nacionalidade no país, com especialistas a preverem que barreiras
constitucionais e administrativas impedirão que a proposta se torne
realidade.A legislação atual permite que
os norte-americanos possuam mais do que uma nacionalidade, sem exigir
que a pessoa escolha uma lealdade em detrimento da outra. "Se
aprovada, essa legislação alteraria drasticamente a política de longa
data dos EUA, que atualmente permite a dupla cidadania na maioria das
circunstâncias. Ela imporia uma pressão significativa sobre famílias,
empresas, organizações culturais e todos aqueles que mantêm fortes laços
com a sua herança e o seu país de origem", alertou a PALCUS."Muitos
na nossa comunidade luso-americana — incluindo vários membros da PALCUS
— seriam afetados direta e negativamente", frisou a organização.O
projeto de lei proposto obrigaria os luso-americanos a renunciar "a
parte da sua identidade e muitos seriam forçados a uma escolha
impossível", argumentou ainda.Neste
momento, a PALCUS está a monitorizar de perto essa proposta a nível
federal e prepara-se para dialogar com legisladores, organizações
parceiras e líderes comunitários para garantir que as vozes
luso-americanas sejam ouvidas durante o processo.Observando
que os legisladores respondem quando os seus eleitores se manifestam em
grande número, a PALCUS instou a comunidade portuguesa nos EUA a
entrar em contacto com os senadores e congressistas eleitos pela
respetiva área eleitoral, a expressar oposição ao projeto de lei em
causa e a incentivá-los a votar contra.Também
o conselheiro das comunidades portuguesas pelo círculo de Washington,
Frank Ferreira, foi uma das vozes luso-americanas que
rejeitou publicamente este projeto e pediu ao Governo português para que
se oponha ao mesmo junto do executivo de Donald Trump."Como
orgulhoso luso-americano, oponho-me veementemente à 'Lei da Cidadania
Exclusiva de 2025'. O argumento do patrocinador de que 'ter dupla
cidadania cria conflitos de interesse e lealdades divididas' é, na
melhor das hipóteses, errada, e, na pior, insultuosa e
inconstitucional", argumentou Frank Ferreira, num comunicado de imprensa
enviado à Lusa. "Esta legislação é
fraturante, um ataque às relações bilaterais entre Portugal e os Estados
Unidos, e uma violação flagrante dos direitos constitucionais definidos
na lei dos EUA - que também se aplicam aos luso-americanos",
acrescentou.Esta nova proposta poderia
afetar diretamente a primeira-dama norte-americana, Melania Trump,
e filho mais novo do Presidente, Barron Trump, ambos com cidadania
norte-americana e eslovena.