Portugueses na Austrália não foram afetados mas destacam dimensão dos fogos
15 de jan. de 2020, 12:57
— António Sampaio/Lusa/AO Online
"Estou cá há 45 anos e
não me lembro de ver tantos incêndios. Este é um país rico, mas houve já
apoio de outros países, que mandaram bombeiros. E ainda continuam
incêndios a arder", explicou à Lusa, nos arredores de Wollongong, a sul
de Sydney.Os fogos não afetaram
diretamente portugueses - não há informação de qualquer caso nem junto
das autoridades consulares nem entre a comunidade portuguesa - mas a
dimensão dos fogos afeta todos."É uma
coisa que nunca vimos. Tem sido uma destruição sem precedentes. Em
termos da natureza e das florestas a destruição foi horrível", conta à
Lusa Sílvia Renda, uma das duas conselheiras para a Ásia e Oceânia do
Conselho das Comunidades Portuguesas.Em
Vitoria, onde vive, os fogos de 2009 foram mais mortíferos - mais de 170
mortos - "mas a área, a dimensão era muito mais pequena", uma zona
"mais concentrada, menor em termos de flora e fauna"."Desta
vez foi mais nas áreas regionais onde existem grandes áreas de
agricultura, de turismo. Em termos do impacto nos negócios e nas áreas
florestais, certamente foi algo nunca visto", sublinhou a conselheira,
que vive em Victoria, um dos estados que a par de Nova Gales do Sul tem
sido particularmente fustigado.Também
Melissa da Silva, a outra conselheira nesta região, sublinha a dimensão
dos fogos, notando que não há notícias de portugueses afetados, ainda
que muitos se tenham já mobilizado para apoiar as vítimas."A
comunidade portuguesa também tem estado envolvida em apoiar as pessoas
afetadas. Todos somos parte da mesma comunidade e temos de ajudar as
pessoas nessas áreas", disse."Houve
empresas [de portugueses] em Sydney que têm estado a levar água e comida
por causa das carências que vivem. Vamos ver o que mais podemos fazer
entre todos. Os clubes portugueses também vão realizar festas para
angariação de fundos", contou.Ainda que
não haja portugueses afetados, os impactos mais alargados dos incêndios
acabam por tocar a todos, por exemplo, devido ao agravamento da
qualidade do ar nas principais cidades.Em
Melbourne, notou Sílvia Renda, os incêndios levaram espessas nuvens de
fumo para a cidade, deixando a qualidade do ar "nos níveis piores do
mundo em termos de poluição ambiental"."O
meu filho estava em colónia de férias e teve de ficar em casa. Tem
problemas de asma e estar exposto a esses níveis de poluição não era uma
opção para mim. Está a ser impossível fazer o mais básico", considerou a
conselheira, que trabalha numa entidade que serve como mediador em
processos com seguradoras ou a banca, entre outros.Melissa da Silva, advogada, disse o mesmo, notando o impacto particular no setor em que trabalha, a construção."Na
construção, as pessoas estão a trabalhar na rua e ao ar livre e por
causa da qualidade do ar, muitos não podem trabalhar", disse.E
os problemas, disse Renda, podem alastrar-se no futuro, com a época das
chuvas a poder ter impactos adicionais, especialmente pelos danos nas
florestas."Os problemas não pararam aqui e vão continuar durante muito mais meses", disse.