Portugueses em Londres tristes com morte de monarca que "era como uma mãe"
Óbito/Isabel II
9 de set. de 2022, 10:41
— Lusa/AO Online
“Perdemos
a nossa mãe”, disse à Lusa José Silva, dono da Tugal Food, uma empresa
de comércio de peixe congelado, quando se preparava para distribuir a
mercadoria pelos restaurantes da capital britânica.A
rainha Isabel II morreu na quinta-feira aos 96 anos no Castelo de
Balmoral, na Escócia, após mais de 70 anos do mais longo reinado da
história do Reino Unido.“Ontem estavam
todos tristes. Tínhamos a televisão ligada para ver as notícias. Estava
muita gente triste”, contou à Lusa Fernanda Pereira, atrás do balcão no
café Madeira Próspero, um dos muitos estabelecimentos com nomes
portugueses na zona de Stockwell, no sul de Londres.Umas
portas à frente, a dona do café Rose Deli, Rosária, há 35 anos a viver
em Londres, confirmava o mesmo cenário: “Foi triste o ambiente. É uma
perda, era Rainha há tanto tempo. Não é fácil”.Sentada
na esplanada do café Estrela, a tradutora Di Lia, que emigrou para o
Reino Unido aos 14 anos e vive em Londres há mais de 40, confidenciava à
Lusa que a Rainda “vai deixar saudades” entre os portugueses, que se
habituaram a referir-se a ela como “a madrinha”.“Chamam-lhe
a madrinha por causa dos benefícios que lhes deu”, disse a portuguesa,
defendendo que Isabel II “ajudou muito” os emigrantes, incluindo os
portugueses, para que tivessem acesso a subsídios sociais.Para
Maria Fernanda Vitorino, que vive em Londres há mais de 30 anos e já
tem netos britânicos, a Rainha é admirada pelos portugueses e por outros
imigrantes porque promovia uma sociedade diversa, aberta aos cidadãos
de várias origens.Sentadas em mesas adjacente, Di e Maria Fernanda concordam que com Carlos III como Rei “não vai ser a mesma coisa”.Elogiando
a integridade e a seriedade de Isabel II, as duas portuguesas são
unânimes em dizer que não desejavam “a ninguém” a “vida de prisão” e a
pressão a que a Rainha foi sujeita ao longo dos seus 70 anos de reinado.“Vão ser uns sapatos difíceis de calçar”, disse Di, para quem a morte de Isabel II é “o início do fim da monarquia”.“Por
enquanto [a monarquia] vai continuar, mas há uma tendência para
acabar”, concordou Maria Fernanda, citando economistas segundo os quais
“a monarquia retira mais do que dá à economia do país”.Já
António Ramalho, dono de um café em Stockwell e a viver em Londres há
33 anos, acredita que a morte da Rainha “não muda nada”.“A única coisa que pode mudar são as notas” de libra, que há décadas exibem a imagem de Isabel II.Sentado
à mesa de um café em Stockwell, José Albuquerque, que tem 43 nos e vive
em Londres desde os 15, recorda com emoção o dia em que viu a Rainha
passar, quando era condutor e andava a passear uns turistas por Londres.“Fomos
parados pelos batedores e vi a Rainha. Foi a única vez que a vi em 27
anos”, disse o agora dono do restaurante Three Lions, que acredita que
“99% das pessoas em Londres têm um carinho especial” por Isabel II.Em
surdina, admitiu que na quinta-feira lhe “vieram as lágrimas aos olhos”
ao saber da morte da monarca, que comparou à perda da sua própria avó.“É como se fosse uma mãe. É a mãe de todos nós”, confessou.