Portugueses e galegos caminham juntos em defesa da Serra d’Arga e contra o lítio
17 de ago. de 2020, 08:51
— Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa, Ludovina Sousa,
em representação do Movimento SOS Serra d' Arga, disse tratar-se da
"primeira iniciativa conjunta com associações e coletividades galegas e
que visa dar a conhecer ‘in loco' o território e património natural e
construído que poderá vir a ser afetado por uma exploração mineira".A
responsável acrescentou que a ação tem ainda como objetivo "fazer um
levantamento fotográfico da região para, posteriormente, divulgar esse
material em sessões de esclarecimento junto das populações das
freguesias e concelhos que integram a Serra d'Arga".A
serra d'Arga abrange uma área de 10 mil hectares, nos concelhos de
Caminha, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura, Viana do Castelo e
Ponte de Lima, dos quais 4.280 se encontram classificados como Sítio de
Importância Comunitária.Aqueles cinco
municípios têm em curso o projeto "Da Serra d'Arga à Foz do Âncora",
liderado pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, que visa a
classificação da Serra d'Arga como Área de Paisagem Protegida de
Interesse Municipal.Segundo Ludovina
Sousa, a caminhada marcada para o dia 22 contará com a participação de
associações culturais e ambientais de La Guardia, Rosal, Baiona e
Gondomar, perto de Tui, na Galiza.A
presença galega na ação no Alto Minho surge na sequência da participação
do movimento SOS Serra d'Arga num debate, na semana passada, na Galiza,
com o título "Minas de Lítio à beira do Miño - A serra d' Arga em
perigo"."Os elementos do movimento SOS
Serra d'Arga fizeram uma apresentação do projeto mineiro em território
nacional, com especial destaque para o crime que o Governo pretende
levar a cabo na Serra d' Arga e que, a ser perpetrado, afetará também o
estuário do Minho que é património comum aos dois povos. Sob a égide de
um rio que nos une, todos os presentes aceitaram abraçar esta causa",
explicou.Já na semana passada o movimento
cívico pediu uma audiência ao ministro do Ambiente e da Ação Climática,
João Pedro Matos Fernandes.Em causa está o
projeto de decreto-lei que regulamenta a denominada lei das minas (Lei
54/2015, de 22 de junho), que esteve em discussão pública entre o dia 16
e 31 de julho.O movimento enviou, pela
via disponibilizada legalmente para o efeito e dentro do tempo dado pelo
Governo, o seu parecer relativo ao processo de consulta pública ao
Projeto de Decreto-Lei n.° 341/XII/2020 (que procede à regulamentação da
lei de bases do regime jurídico da revelação e do aproveitamento dos
recursos geológicos para os depósitos minerais). Este parecer foi
subscrito pelas Juntas de Freguesia de Moledo e Âncora, que juntaram a
sua voz à das populações da Serra d'Arga, consternadas e mobilizadas no
sentido da proteção do seu território", refere o movimento. À
Lusa, no início do mês, o porta-voz do movimento, Carlos Seixas,
classificou de "muito mau" o projeto de decreto-lei por "deixar a
possibilidade de as empresas de mineração fazerem quase tudo"."Nem
sequer um estudo de impacto ambiental pode impedir uma mineração. Com
esta proposta de decreto-lei nada pode ser impedido, está tudo em
aberto", afirmou.Segundo o responsável, a proposta governamental "fala sempre num pode ser e nunca diz, taxativamente, quais os impedimentos"."Deixa
sempre em aberto a possibilidade de se fazer onde quer que seja. Não dá
qualquer possibilidade de a população, ou até as câmaras municipais,
tomarem uma posição, por exemplo, quando se trata de um concurso
público", sustentou.