Portuguesa participa em missão espacial inédita que vai intercetar cometa primitivo
16 de jan. de 2020, 11:33
— Lusa/AO Online
A missão
da Agência Espacial Europeia (ESA) "Comet Interceptor" (Intercetor de
Cometa, em tradução livre) tem lançamento previsto para 2028 e será a
primeira a recolher informação sobre um cometa que nunca se aproximou do
Sol e, por isso, se manteve inalterado desde a sua formação."Apanhar"
tais cometas tem sido difícil, uma vez que só podem ser detetados
quando se aproximam do Sol pela primeira vez, deixando pouco tempo para
planear e enviar uma missão espacial na sua direção.A
missão "Comet Interceptor", que conta com a colaboração da agência
espacial japonesa (JAXA), vai colocar uma sonda a 1,5 milhões de
quilómetros da Terra, na direção contrária ao Sol. Em
conjunto com telescópios terrestres, um deles a ser construído no
Chile, o aparelho irá permitir detetar um cometa proveniente da Nuvem de
Oort, região nos confins do Sistema Solar, e eventualmente corpos
interestelares que entraram no Sistema Solar pela primeira vez e estão
na trajetória de aproximação ao Sol.Assim
posicionada, a sonda, a principal, será um "ponto de espera" a um desses
cometas, disse à Lusa Zita Martins, especialista no estudo da origem da
vida na Terra e a única cientista portuguesa que integra a equipa
internacional que vai analisar os dados recolhidos na missão.Depois
de identificar o cometa até então desconhecido, a sonda viajará durante
meses ou anos pelo espaço para estar no sítio e no momento certos para
intercetar o cometa quando este cruzar o plano da elíptica, o plano da
órbita da Terra em relação ao Sol.Duas
sondas mais pequenas serão libertadas da sonda principal antes de se
aproximarem do cometa. São estes dois aparelhos que vão circundar o
cometa e recolher o máximo de informação possível, incluindo sobre a
composição da sua superfície, a forma e estrutura.Todos os dados obtidos serão transmitidos para telescópios terrestres através da sonda principal com a qual comunicam.Para
Zita Martins, professora no Instituto Superior Técnico, em Lisboa,
intercetar um cometa primitivo é como entrar na "máquina do tempo", uma
vez que possibilitará desvendar quais "as moléculas orgânicas"
disponíveis no início da formação do Sistema Solar e, assim, dar pistas
mais concretas sobre a origem da vida na Terra.Os
cometas, vulgarmente descritos como "bolas de gelo sujas", têm na sua
composição, além de gelo, poeira, fragmentos rochosos, gás e compostos
orgânicos (estes últimos terão chegado à Terra fruto do impacto dos
cometas na superfície terrestre).Missões
espaciais anteriores estudaram cometas que entraram várias vezes no
Sistema Solar e passaram perto do Sol, que produziu alterações na sua
superfície, escondendo a sua aparência original.A
sonda europeia Rosetta orbitou durante dois anos, entre 2014 e 2016, o
cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que viaja entre as órbitas da Terra e
de Júpiter. Foi a primeira vez que uma sonda orbitou um cometa e teve um
módulo robótico na sua superfície.A
missão "Comet Interceptor" será lançada à boleia de uma outra, a Ariel,
também da ESA, que vai estudar a composição química da atmosfera de
exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar) já descobertos e que conta
também com a participação de cientistas portuguesas.