Portugal ter só campeões olímpicos no atletismo é "casualidade"
6 de jul. de 2024, 09:13
— Ana Marques Gonçalves/Lusa
“Casualidade.
O judo tem atletas muito bons, o ténis de mesa também. A ginástica
também tem força. Casualidade das casualidades, não me pergunte porquê”,
refletiu, quando questionado sobre a ‘exclusividade’ do atletismo na
galeria de campeões olímpicos nacionais.Há
40 anos, Carlos Lopes conquistou o primeiro ouro olímpico em Los
Angeles1984, na maratona, prova que fez também Rosa Mota entrar no
‘Olimpo’ quatro anos depois, em Seul1988. Seguiram-se Fernando Ribeiro,
nos 10.000 metros, em Atlanta1996, e Nélson Évora (Pequim2008) e Pedro
Pablo Pichardo (Tóquio2020), ambos no triplo salto. “Se
tudo correr pelo normal, estou convencido de que o atletismo poderá
trazer a medalha [de Paris2024], poderá é não ser a de ouro. O Pichardo…
mas é preciso que tudo corra bem”, perspetivou, em entrevista à Lusa,
em sua casa, em Santa Cruz (Torres Vedras).O
antigo atleta, atualmente com 77 anos, considera que, “neste momento”, o
atletismo português é bom “em quase todas as disciplinas, menos no meio
fundo”. “É um facto. Mas ainda tenho
esperança que o Samuel Barata faça qualquer coisa de giro. Tenho
esperança. É um miúdo que merece, que trabalha. É um miúdo que tem
condições. E os resultados, tanto nos 10.000 como na maratona, deixam-me
satisfeito. E com vontade de ver essa prova”, antecipou sobre o único
atleta masculino apurado para a maratona dos Jogos que decorrem entre 26
de julho e 11 de agosto. Carlos Lopes não
vai viajar para a capital francesa, por já não ter “idade para fugir” –
em alusão aos desafios de segurança colocados a Paris2024 - e preferir
“ver tudo ao pormenor” em vez de ter de “andar quilómetros e
quilómetros” para assistir às provas, nomeadamente as de natação, remo,
judo e, claro, atletismo.“Aquilo é um
mundo maravilhoso. Mas é preciso saber estar neste mundo maravilhoso.
Porque aquilo é de uma dimensão tal. Há uns [atletas] que se deslumbram e
há outros que se acanham. A pressão é de tal ordem. E com o aproximar
das competições, é terrível. Há uns que se aguentam e há outros que não
se aguentam”, analisou. Quatro décadas
passaram desde que subiu ao lugar mais alto do pódio, mas o também
vice-campeão olímpico dos 10.000 metros em Montreal1976 mas Lopes crê
que a essência dos Jogos Olímpicos permanece “a mesma”. “Agora,
os resultados é que são diferentes, as fórmulas são diferentes. E faz
todo o sentido. Porquê? Muitos dos países também têm fórmulas adversas à
realidade do que é o desporto de alto rendimento. Transformam jovens do
nada em grandes campeões. Por isso é que há passaportes biológicos”,
salientou.Para Lopes, “há mais matreirice
no desporto hoje”. “Baseia-se tudo nisto, infelizmente. E aqueles que
andam no desporto pelo prazer e fazem resultados fabulosos, às vezes
ficam um bocadinho desapontados pelo seu sacrifício em prol daqueles que
pouco fazem e que muito ganham”, lamentou.