Portugal tem taxas de mortalidade por AVC superiores a todos os países da Europa ocidental
20 de jan. de 2020, 18:18
— Lusa/AO Online
Segundo o estudo apresentado em Lisboa, pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC),
“Portugal ocupa apenas a 25.ª posição (em 51 países) entre as mulheres e
a 28.ª posição entre os homens, com mortalidades superiores às de todos
os países da Europa Ocidental”. Em termos
do impacto do AVC na mortalidade, anos de vida perdidos ajustados por
incapacidade, anos de vida vividos com incapacidade e anos de vida
perdidos os resultados são “claramente insatisfatórios”, refere o
estudo, afirmando, a título de exemplo, que a mortalidade por esta
doença em Portugal “é o dobro da observada na França”.Contudo,
tem “excelentes resultados” em termos do impacto da doença coronária na
mortalidade e tem “bons resultados” no que respeita à doença cardíaca
hipertensiva, refere a análise que inclui todos os países da Europa e
ainda países da África do Norte, do Golfo Pérsico e da antiga União
Soviética.Em declarações à agência Lusa, o
presidente da SPC, Victor Gil, afirmou que os dados vão no sentido dos
indicadores nacionais e que indicam que “Portugal está razoavelmente
bem” relativamente às doenças isquémicas do coração, mas “menos bem” no
acidente vascular cerebral, em que “há um grande caminho a percorrer e
muito trabalho a fazer”.“Existem aspetos
muito bons, como é o caso da cardiopatia isquémica, doença relacionada
com as coronárias, sendo que o grande desafio é manter e se possível
melhorar o que já se conseguiu”, defendeu.Para
Victor Gil, os resultados obtidos têm sido “muito fruto da capacidade
organizativa dos cardiologistas portugueses e da resposta que têm
conseguido dar aos grandes desafios”, que se tem repercutido “numa
melhoria da sobrevivência”.“Houve de facto
uma melhoria muito importante do tratamento do enfarte do miocárdio e o
sistema está montado e funciona”, apesar de ainda haver zonas do país
que é preciso “cobrir melhor” e aspetos melhorar, nomeadamente no
transporte secundário de doentes críticos.O
estudo, que faz o retrato da saúde cardiovascular na Europa, indica que
Portugal, em comparação com os países analisados, “parece ter um número
suficiente/excessivo de médicos, mas um número claramente deficitário
de enfermeiros”. “Há menos enfermeiros em
termos de medicina cardiovascular do que nos países comparadores, menos
unidades de cuidados intensivos cardíacos, que têm vindo a desaparecer
em Portugal a favor de unidades polivalentes, e nós defendemos que,
sobretudo, nos centros de grande diferenciação devem continuar a
existir”, salientou Victor Gil.Segundo o
Atlas, o número total de cirurgiões cardíacos e de cardiologistas
“parece ser adequado, mas existe um grande desequilíbrio entre as
subespecialidades de cardiologia, com um número médio adequado de
eletrofisiologistas, mas um número aparentemente deficitário de
cardiologistas de intervenção”.Para o
presidente da SPC, estas assimetrias são reflexo de não haver “qualquer
tipo de planificação em Portugal” na formação nas subespecialidades.Em
comparação com os outros países, Portugal tem um número elevado de
hospitais com aparelhos de TAC e Ressonância Magnética Nuclear, embora
não seja clara a geração tecnológica destes aparelhos. Tem
também um “elevado número” de hospitais a implantar pacemakers
permanentes, desfibrilhadores, sistemas de ressincronização cardíaca e
procedimentos de eletrofisiologia, em linha com a maior parte dos países
da Europa Ocidental.Contudo, tem “um
claro deficit” de hospitais com camas de cardiologia, de camas de
cuidados intensivos cardíacos, de programas de reabilitação cardíaca
intra e extra--hospitalar.“Os orçamentos
que têm sido atribuídos à saúde têm sido no patamar mais baixo e mesmo
assim temos obtido resultados bons, o que significa que se forem
atribuídos mais recursos provavelmente nós conseguiremos atingir o
pelotão dos melhores em relação a todos os indicadores”, defendeu Victor
Gil.