Portugal tem de provar que aumentos de capital na SATA não foram ajudas do Estado
26 de ago. de 2020, 08:39
— Lusa/AO Online
"Cabe a Portugal demonstrar que os aumentos de
capital a partir de 2017 não foram ajudas do Estado", assinala-se. Uma
posição que tem por base o facto de, em caso de ajudas do Estado nos
últimos dez anos, ser impedido novo apoio financeiro.A
posição surge na carta enviada pela vice-presidente executiva da
Comissão Europeia Margrethe Vestager, responsável pela política de
concorrência, ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos
Silva, a propósito da 'luz verde' de Bruxelas a um auxílio estatal
português de 133 milhões de euros à transportadora aérea açoriana SATA.O apoio consiste numa garantia de Estado a um empréstimo junto de entidades privadas.A
agência Lusa teve acesso à missiva, datada de 18 de agosto,
aquando da decisão do executivo comunitário, sendo que na ocasião foi
também referido que seria aberta uma investigação para avaliar o
cumprimento das normas comunitárias noutros apoios públicos à companhia.Na
investigação estão em causa três aumentos de capital realizados entre
2017 e 2020 e que vão injetar até 2023 perto de 130 milhões de euros na
transportadora.Portugal advogou que o
Governo Regional dos Açores, como único acionista da SATA, atuou como um
investidor privado a operar em condições de mercado.O
país pode, todavia, invocar circunstâncias "excecionais e
imprevisíveis" cuja responsabilidade não poderia ser imputada à SATA
para justificar as injeções financeiras, reconheceu Margrethe Vestager.As
dificuldades financeiras da SATA perduram desde, pelo menos, 2014,
altura em que a companhia aérea, detida na totalidade pelo Governo
Regional dos Açores, começou a registar prejuízos, entretanto agravados
pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que teve um enorme
impacto no setor da aviação.O atual
conselho de administração da transportadora açoriana tomou posse em
janeiro e comprometeu-se a apresentar um plano estratégico e de
negócios até ao final do primeiro trimestre do ano, mas a pandemia da
covid-19 obrigou a uma reavaliação do documento.Em
julho, a SATA sublinhou que "o contexto provocado pela pandemia teve um
impacto muito significativo" e, devido à "paragem quase total da
atividade, foram implementadas todas as medidas possíveis ao dispor da
gestão, num cenário em que a preservação da empregabilidade era
fundamental".Nos próximos seis meses, nos
termos da regulamentação comunitária, a SATA irá, conjuntamente com o
Governo dos Açores e a Comissão Europeia, trabalhar no plano de negócios
que assegure a sustentabilidade económica e financeira do grupo e
garanta os serviços de interesse económico geral no transporte aéreo
interilhas e com o exterior.