"Portugal sente-se envergonhado com morte de cidadão ucraniano"
15 de dez. de 2020, 18:40
— Lusa/AO Online
“O
que se passou é algo que, para um país que é uma referência global pela
forma como recebe migrantes e acolhe refugiados e que nos orgulha,
sente-se envergonhado por esta circunstância”, afirmou Eduardo Cabrita
na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias a propósito da morte de Homeniuk no espaço equiparado a
Centro de Instalação temporária do Aeroporto de Lisboa, após os pedidos
da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira e do PSD.Há, acrescentou o ministro, “uma firmíssima repulsa por um Estado que não se reconhece nisto”. Após
as considerações iniciais de Joacine Katar Moreira, com quem o ministro
admitiu estar “genericamente totalmente de acordo”, Cabrita relembrou
as declarações que tinha proferido em abril na mesma comissão,
nomeadamente o “compromisso com o total apuramento da verdade”. Segundo
o ministro, neste caso de homicídio de um cidadão que estava à guarda
do SEF, “não bastava apurar a autoria moral do crime, era necessário ir
mais além e apurar se houve encobrimento, negligência grosseira ou
omissão de auxilio”. Eduardo Cabrita, mais
uma vez, enumerou aos deputados todas as diligências realizadas para
apurar o sucedido, com destaque para a abertura de um processo
disciplinar ao coordenador do gabinete de inspeção do SEF, averiguações e
procedimentos disciplinares a 12 inspetores e a uma funcionária
administrativa na Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) a par
da acusação de três inspetores de homicídio qualificado.Durante
a explicações perante os deputados, o ministro lembrou que na certidão
de óbito do cidadão constava “morte por paragem cardiorrespiratória” e
que as agressões de que foi vítima só foram conhecidas pelo relatório da
autópsia de 23 de abril.Na sua primeira
intervenção, Eduardo Cabrita revelou também que, este ano, foram
enviadas para a IGAI 51 queixas sobre a atuação do SEF, 510 contra a PSP
e 318 contra a GNR.Joacine Katar Moreira,
a primeira a propor a audição de Cabrita, afirmou que “ninguém está
ilibado” do “ambiente de impunidade e omissão que caracterizaram durante
meses e meses o assassinato do cidadão Ihor Homeniuk”.A
ex-deputada do Livre fez a defesa da extinção do SEF, mas não “à
pressa”, devendo ser acauteladas “melhores políticas de imigração” e a
“defesa dos direitos humanos”.E criticou o
ministro da Administração Interna por “proteger” o SEF e a sua
diretora, que se demitiu quase nove meses depois da morte do cidadão
ucraniano. Por último, Joacine Katar
Moreira questionou se PSP e GNR serão as “entidades que vão salvaguardar
os Direitos Humanos” e se elas “têm as habilitações, formação e
comportamento efetivo necessário” para cumprir a missão de forma
“diferente” da que tem sido feita pelo SEF.