Portugal registou mais de 60 mil novos casos de cancro em 2022

Hoje 17:09 — Lusa/AO Online

“Os resultados mostram que após as alterações provocadas pela pandemia de covid-19 a incidência em 2022 diminuiu e aproximou-se dos valores observados em 2019. Mantiveram, no entanto, uma tendência crescente o cancro do cólon e o melanoma maligno em ambos os sexos, bem como os cancros do reto e do rim nos homens”, disse à agência Lusa a coordenadora do RON, Maria José Bento.Em 2022 foram registados em Portugal 60.954 novos casos de cancro, o que corresponde a uma taxa de incidência de 579,6 casos por 100 mil habitantes.De acordo com um resumo do RON a que a Lusa teve acesso, a incidência foi mais elevada nos homens (658,3 por 100 mil) do que nas mulheres (507,7 por 100 mil) e cerca de 75% dos diagnósticos ocorreram em pessoas com mais de 60 anos.Sobre o aumento global do cancro do cólon, Maria José Bento disse “ser possível relacionar com um aumento do alargamento do rastreio” deste tipo de patologia, enquanto a incidência nas faixas etárias mais velhas pode ser atribuída à “evolução normal do envelhecimento da população, uma vez que os cancros são, sobretudo, detetados em pessoas velhas”.Os tumores mais frequentemente diagnosticados em 2022 foram os da mama, colorretal, próstata, pulmão e pele não-melanoma.O grupo etário dos 80 aos 84 anos apresentou a taxa de incidência mais elevada, com 1.645 casos por 100 mil habitantes.Seguindo o padrão habitual, nos homens o cancro da próstata foi o mais frequente, enquanto nas mulheres o cancro da mama continuou a liderar os diagnósticos.Do ponto de vista geográfico, “as taxas de incidência padronizadas mais altas registaram-se nos distritos do Porto, Braga e Lisboa, bem como na Região Autónoma da Madeira, mantendo-se o Norte e a Madeira como as regiões com maior carga oncológica”, lê-se no resumo do RON.A coordenadora do RON e diretora do Serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto considerou que “mais do que questionar a acessibilidade ao diagnóstico e aos cuidados de saúde”, a maior incidência nestes distritos “pode estar associada ao estilo de vida e a fatores de risco que poderão ser mais ou menos controlados”.“Por exemplo, o cancro do pulmão é mais nas zonas urbanas, o cancro do estômago é na região norte que continua a ter esta maior incidência. Estas diferenças regionais têm muito a ver com fatores ligados ao estilo de vida, alimentação, fumar, etc. As pessoas digam muito à genética, consideram que é quase uma fatalidade e não é. E também não é só acessibilidade. Tem muito a ver com os hábitos de vida. Está provado que conseguir manter atividade física melhora a sobrevivência para alguns cancros”, disse a especialista, em jeito de alerta.Maria José Bento aproveitou ainda para apelar para a concretização dos rastreios do cancro do pulmão, próstata e estômago, medida que tarda em avançar em Portugal apesar de em dezembro de 2022, o Conselho da União Europeia ter recomendado aos Estados-membros que adotassem medidas que permitissem implementar projetos-piloto para novos rastreios oncológicos.O alargamento dos programas de rastreio oncológico nacional aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago chegou a estar incluído no Orçamento do Estado para 2024.“São realmente patologias que vale a pena rastrear porque vale a pena garantir melhor sobrevivência com um diagnóstico mais cedo. O cancro da próstata é o cancro de maior incidência no homem. E o cancro do pulmão é o quarto cancro mais frequente. E o cancro do estômago é um cancro muito incidente na população portuguesa. Nós somos considerados uma população de médio risco para o cancro do estômago”, alertou.O RON é um registo que assenta numa plataforma única eletrónica, que tem por finalidade a recolha e a análise de dados de todos os doentes oncológicos diagnosticados e ou tratados em Portugal continental e nas regiões autónomas.Este registo inclui todos os tumores na população residente em Portugal e permite a monitorização da atividade realizada pelas instituições, da efetividade dos rastreios organizados e da efetividade terapêutica, a vigilância epidemiológica, a investigação e, em articulação com o Infarmed, a monitorização da efetividade de medicamentos e dispositivos médicos.