Portugal precisa de estratégia para gerir crescente quantidade de dados de saúde
3 de jun. de 2024, 10:14
— Lusa/AO Online
Esta é
uma das recomendações que consta do relatório sobre o sistema de
informação de saúde elaborado por este órgão independente de consulta do
Governo e que será apresentado num fórum que vai decorrer na
Assembleia da República.“A quantidade
crescente de dados em saúde, aliada à necessidade de melhorar a
qualidade e efetividade dos serviços de saúde, impõe a criação de uma
estratégia nacional de dados e informação em saúde”, alerta o documento
do Conselho Nacional de Saúde (CNS). De
acordo com o relatório, a Estratégia Nacional para o Ecossistema de
Informação de Saúde 2020/2022 “nunca foi formalmente aprovada, deixando o
país sem uma estratégia concreta de ação, até ao presente” sobre esta
área.Segundo o conselho, esta nova
estratégia para Portugal deve estar alinhada com o Espaço Europeu de
Dados em Saúde (EEDS), uma iniciativa lançada pela Comissão Europeia em
2022 e que entrará em vigor em 2026, com o objetivo de criar um ambiente
de confiança e segurança que permita o acesso e a partilha de dados de
saúde entre diferentes países, instituições e profissionais que prestam
cuidados.O conselho alega que o
desenvolvimento dessa estratégia para Portugal, em consonância com o
EEDS, permitirá melhorar a qualidade dos serviços de saúde, aumentar a
eficiência do sistema de saúde e promover a investigação e a inovação
neste setor.Além disso, defende que a
estratégia nacional de dados e informação em saúde, que tem de incluir
programas de literacia digital, deve garantir padrões de segurança e de
privacidade, bem como a implementação de mecanismos de acesso e controlo
adequados às características dos cidadãos. Para
Portugal, será de “grande utilidade dispor de uma estratégia nacional
abrangente para a gestão e utilização de dados em saúde que inclua
diretrizes claras” para a colheita, armazenamento, análise e partilha de
dados de saúde, garantindo a segurança, privacidade e uma “ética
rigorosa no uso dos mesmos”, preconiza.O
relatório reconhece ainda que, dada a “complexidade e a importância
dessa iniciativa”, poderá ser adequado criar uma equipa dedicada, sob a
forma de uma unidade de missão, que seria responsável por coordenar e
supervisionar a estratégia e as iniciativas relacionadas com o
desenvolvimento do sistema de informação numa perspetiva abrangente e
não meramente tecnológica e instrumental.Outra
das recomendações do relatório, que pretende ser uma reflexão crítica
sobre como aperfeiçoar o sistema de informação de saúde em Portugal, é a
criação de uma Autoridade de Saúde Digital, também como decorre do
EEDS, e que seria responsável por assegurar os direitos das pessoas
nesta área.O CNS alerta também que existe a
perceção de que a informação sobre saúde é recolhida de “forma dispersa
e desagregada, por múltiplos agentes independentes e em vários sistemas
que não comunicam entre si”, defendendo que o seu fluxo “terá de ser
melhorado”.“Os dados e a informação
deverão fluir, com segurança, dentro da mesma organização e entre os
diferentes níveis e tipos de cuidados e diferentes organizações,
permitindo ao utente e aos profissionais de saúde por si autorizados,
conhecer, acompanhar, gerir e reproduzir o seu percurso de saúde”,
salienta o documento.Este órgão consultivo
realça que, se as pessoas puderem aceder e deter controlo sobre os seus
dados de saúde, “estarão em situação de exercer plenamente os seus
direitos” e que dispor de dados de saúde atualizados é “fundamental para
tomar medidas de saúde pública bem informadas e dar respostas a
crises”.O relatório recorda ainda o
princípio da propriedade dos dados, segundo o qual a informação de saúde
é propriedade do utente, o que significa “que a pessoa a quem a
informação diz respeito é a decisora sobre a recolha e utilização da
mesma”.“No entanto, desde que a recolha
obedeça aos preceitos adequados, a informação anonimizada de forma
segura pode e deve ser utilizada com o objetivo de melhorar o
funcionamento do sistema de saúde e da sociedade em que este se insere”,
refere o relatório.Os dados em saúde são
informações recolhidas, armazenadas e utilizadas e que podem abranger
várias informações relacionadas com a saúde de cada pessoa, das
populações, de doenças, de tratamentos, de saúde pública e de
investigação clínica, entre outras áreas. No
caso dos dados clínicos, trata-se de informação específica sobre uma
pessoa, como a doença, os resultados de exames, o histórico de saúde, os
dados genómicos, os diagnósticos, as prescrições e os procedimentos de
que foi alvo.A informação de saúde
refere-se ao conjunto de dados organizados e processados relacionados
com a saúde de indivíduos, populações ou sistemas de saúde, mas que
envolve a sua interpretação e análise para apoiar as decisões clínicas, a
investigação e as políticas de saúde.